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sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Imago Mortis volta à ativa em grande estilo


Porter


Ah, o doom metal da melhor qualidade merece, sim, uma Porter. Pode experimentar! Aliás, não deixa de ser, também, uma forma de brindar o Imago Mortis, banda carioca que voltou à estrada depois de alguns anos inativa, e seu mais recente álbum, LSD.

A atual formação conta com Alex Voorhees, vocal, Daemon Ross, guitarra, Rafael Rassan, guitarra, Charles Soulz, teclado, Paulo Ricardo Silva, baixo, e André Delacroix, bateria. O show de lançamento do CD aconteceu no River Rock Festival, ocorrido em Indaial (SC), no início de setembro.



O guitarrista Daemon Ross bateu um papo com a equipe do Programa Lendas do Rock após a apresentação da banda e o resultado você confere a seguir.

Esse foi o primeiro show do disco novo LSD, certo?
Daemon Ross: Sim, hoje foi o primeiro show do LSD – Love, sex and death. Um CD que demorou quase tanto tempo quanto o Chinese Democracy (2.008) para sair. Gravei as guitarras desse disco há seis anos, não lembrava mais nenhuma música – não conta para ninguém (risos). Começamos a trabalhar nele por conta do River Rock e, então, esse acabou sendo o primeiro show da turnê. Este é um ano especial pra mim porque acabei lançando esse álbum e um outro com uma cantora americana, não sei se você conhece, Lether Lione, de uma banda chamada Chastain, dos anos 1.980 [N. do R.: Claro que conheço. O grupo de heavy metal Chastain fez um certo sucesso naquela década e segue na ativa]. Já fiz duas turnês com ela. Gravei o disco [solo] que saiu neste ano, o Lehter II,  sucessor do Schockwaves. Tenho dado muita sorte com esses trabalhos, tenho tocado com bons músicos, embora não seja um músico profissional que vive disso, pois sou professor universitário. Esse CD [da Leather] tem oito músicas minhas de um total de 11. Nesse do Imago Mortis há algumas contribuições minhas. Bem legal esse reconhecimento como compositor.

Esse trabalho também é conceitual?
Daemon: Sim. Ele conta a historia de um amor que começa e termina passando por todas as suas fases. Há um “que” do Vida (2.002). Cada música conta uma fase do amor, da descoberta, do amor romântico, a do let’s broke up, a do “eu não quero nunca te ver, te odeio”, enfim diversos tipos de amor. Não tem gênero definido, então, apesar de ser cantado por um homem não tem uma relação heterossexual entre os personagens principais. É aberta e geral. Esperamos que todos que leiam as letras se identifiquem passando o sentimento da música. É um disco de arte, não foi feito para vender milhões, não temos essa pretensão. É um bom recomeço. E temos um outro no forno... Serve para mostrar que temos continuidade, uma nova banda e ficar na estrada por muito tempo.

Esse hiato entre os álbuns tem haver com a parada?
Daemon: Os integrantes moram em diversos locais do Brasil, o Alex mora no Rio Grande do Sul, parte da banda mora em Macaé, no RJ, outra parte em uma região mais central da capital, então é muito difícil reunir os músicos. Porém a Internet ajudou muito e esse disco foi reconstruído recentemente a partir de um rascunho que tínhamos há seis anos quando fizemos as demos, mas faltou dinheiro para finalizá-lo, além de outras situações. O Alex insistiu em lançar para pelo menos colocar o material para fora e ver o que acontece e todos se animaram. Depois de hoje [N. do R.: River Rock Festival] acho que vamos continuar juntos para sempre, até que a morte nos separa (risos).

Com as plataformas digitais, downloads etc, ainda compensa editar o trabalho físico?
Daemon: Não compensa financeiramente porque o retorno das plataformas é muito irrelevante, já que é novo ainda. Não temos um nível de visualização muito grande, até por conta do hiato, então temos que nos provar novamente, cair na estrada, enfim, praticamente recomeçar como se fosse uma banda nova. Eu lancei um vinil, cara! Nós amamos esse negócio, é arte. Pensamos até em lançar uma música por vez nas plataformas até completar um disco e lançá-lo mais barato, talvez. Pensamos nisso, mas não fazemos música para ganhar dinheiro, não.

Próximo projeto?
Daemon: Vamos lançar em novembro o vídeo da banda, um clipe de animação de Black Window, uma música minha, uma das únicas laçadas como demo nesse hiato. Será feito por uma empresa do Rio de Janeiro, de um amigo meu. Vai ser  algo que nenhuma outra banda nacional fez. Para variar, é o Imago remando contra a corrente. Somos totalmente anticomerciais.

Por onde vai passar a turnê?
Daemon: Temos alguns contatos lá fora, até por conta de eu ter tocado com a Lether, porém por eu não viver de música, ter outra profissão, diferente do restante que é músico profissional, meu calendário é um pouco diferente, já que tenho que estar de férias para poder fazer algo assim. Mas queremos fazer nosso país primeiro e, claro, depende muito do feedback, de quem viu a banda, de apoiar e pedir a banda

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Rock gaúcho underground


Rock, cerveja, putaria e churrasco, a receita do Cartel

APA



Imagine o Tankard, banda de thrash metal alemã que fala sobre cerveja. Poderíamos até sugerir que seria uma que encara bem o espírito do blog SP&BC. Entretanto, uma formação oriunda de Porto Alegre (RS), denominada Cartel da Cevada, é a bola da vez - embora aqui ficamos somente entre cerveja e rock, bem explicado.

Com um som rasgado, sujo e adicionando elementos regionais, para situar o amigo rock'n'roll, mal comparando, seria como se o Carro Bomba ao seu estilo cantasse letras feitas pelas Velhas Virgens e adicionasse o tema churrasco.

Na estrada desde 2.004 e atualmente contando com Igor Assunção, vocal e guitarra, Nando Rosa, guitarra, Leo Bacchi, baixo, Alberto Andrade, bateria, e Santto Nerva encarando uma fantasia de "O Diabo", o Cartel da Cevada foi uma das atrações do River Rock (leia aqui), de Indaial, em setembro último.

Após o show, nós - entenda Programa Lendas do Rock - fomos bater um papo com o líder do grupo, Igor Assunção para conhecer mais sobre mais esse nome do nosso rico underground. Ah, devido às circunstâncias, as tradicionais perguntas sobre qual cerveja combina com determinada banda ficaram de fora. Porém a que recomendei, na verdade, é a opinião do entrevistado.


Fazer som autoral no Brasil.
Cara, tem que se desdobrar, não é fácil. Mas fazemos o que amamos, o que compomos. É um estilo de vida. Por que tocamos? Nem sabemos exatamente, a palavra é amor mesmo. É bem difícil, temos que nos reinventar o tempo todo, nos aperfeiçoar e conseguir recursos para conseguir gravar os discos. Nesse mais recente, Cartélico Volume 1: Fronteira, trago e querência, tivemos apoio da Secretaria de Cultura de Porto Alegre. Para isso fizemos um projeto que foi aprovado. Para lançar tivemos uma "vaquinha virtual", o crowdfunding. E todo valor de merchandising que a banda tem foram os fãs que nos ajudaram. Da mesma forma, no final do ano passado gravamos um DVD e o custo para gravá-lo foi [outra] "vaquinha virtual", afinal, o Brasil não é o pais do rock’n’roll. É um país de varias outras coisas, mas com certeza não é do rock’n’roll e nem do metal. No entanto somos felizes pelos fãs que temos.
Política é importante, mas o Cartel da Cevada é para se divertir

Letras.
Quando começamos, na época do primeiro disco, éramos uma gurizada tocando sobre festa, putaria, cerveja, churrasco, que era o que fazíamos para nos divertir. Nos outros trabalhos fomos amadurecendo e criando uma outra identidade. E sempre brincamos com o sotaque gaudério [N. do R.: algo como gaúcho de nascença], na maneira de contar as histórias, os contos, "causos" etc. E nesse álbum mais recente há alguns conflitos psicológicos. Algumas criticas que não são nem veladas à sociedade em que vivemos. Sempre prezamos pela cerva com os amigos, rock, pelo churrasco porque a vida é muito sofrida. Claro que nos importamos com a situação política, mas o som do Cartel é para as pessoas se divertirem, extravasarem.

Rock gaudério?
Nos chamam de rock bagual [N. do R.: do Sul do Brasil]. Já nos chamaram de rock gaudério, rock gaúcho. Fazemos rock’n’roll mesmo, sujo, pesado, "bagaceira"; tentamos nos divertir.

Não tocar em rádio.
Em um cenário mainstream não temos espaço. Ainda existe o jabá. O mercado é dividido assim. Querendo ou não, é um negócio e se a pessoa tem grana para investir em seu negócio, ok. No independente gaúcho a galera é muito antenada com o marketing digital, internet e trabalham bem. Tivemos que aprender, nos adaptar, pois fazíamos de um jeito, mudou, enfim. Tem rolado, sem muito investimento, afinal são os fãs que nos ajudam. E temos algumas bandas excelentes como Catarse, Ácida, do Rio Grande do Sul, que trabalham bem isso. A estrada é muito importante, haja visto o [festival] River hoje, que estava lotado. Muito bom, principalmente essa união de todas as tribos.

Cerveja.
Uma IPA ou APA bem amargas, de preferência. Inclusive produzimos duas cervejas, uma IPA, chamada A Barbada, e uma American Salt Pale Ale, a Fronteira, uma homenagem ao título do nosso novo disco que se chama Fronteira, trago e querencia. Nos aventuramos nesse universo cervejeiro fazendo umas cervas. Vou mandar umas para o blog para você provar [N. do R.: estamos esperando].

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

RIVER ROCK: Se o rock morreu esqueceram de avisar Indaial


Andreas comandando as ações

Pilsen



Sim, senhor, Pilsen para curtir três dias, de 7 a 9 de setembro, com todas as vertentes do rock ditando o feriadão catarinense na 15ª edição do River Rock Festival, em Indaial, no Vale do Itajaí. A escolha se deve por ser a única opção de chope no evento e não só isso, mas também porque é a melhor opção para nos refrescarmos depois de tanto balançarmos cabeças e troncos. Claro que estavam disponíveis cervejas e outras bebidas.

E nós, SP&BC e o Lendas do Rock, marcamos presença no Fest. Fizemos duas entrevistas que, em breve, serão disponibilizadas. Estas rolaram com Imagos Mortis e Cartel da Cevada. Devido a outros compromissos, pudemos conferir apenas a segunda data, o sábado, dia 8, infelizmente.
Acampamento com uma vista linda

Chegamos ao evento, que este ano ocorreu no Rota KM 66, próximo à BR 470, por volta das 16 horas e tivemos um pouco de dor de cabeça para a retirada das credenciais. No entanto, com o problema resolvido, partimos para o trabalho. O clima estava agradável, sol, frio apenas à noite, ou seja, perfeito para acampar, tomar cerveja e curtir rock'n'roll.

Havia stands vendendo CDs, camisetas, acessórios em geral, e, claro, não podia faltar a alimentação do pessoal. Inclusive um "vomitório" (!) no banheiro. O palco foi montado em um barracão com capacidade para 500 pessoas, mas com enormes portões abertos em que era possível que todos no River, se fosse o caso, acompanhassem os shows.

Armum
Público, aliás, que era o mais heterogêneo possível. Punks moicanos, pessoas saindo diretamente da Sunset Strip dos anos 1.980, headbangers de todos os estilos, crianças - muitas, para felicidade da continuidade do gênero musical - e noivos. Você leu certo, no palco aconteceu um casamento com direito a baile de debutantes.

A primeira banda que assistimos foi o Affront (RJ) com um death/black que agitou os presentes. Em seguida, o trio Armum mostrou com quantas notas se faz uma boa "podreira"; técnica e feeling a toda prova. Na sequencia, com o cair do sol, a banda que é a cara do blog: Cartel da Cevada. Os gaúchos fazem rock'n'roll falando de cerveja e outros assuntos divertidos peculiares ao estilo. Mais SP&BC impossível!

Uma das atrações mais aguardadas da noite, o Imago Mortis trouxe músicas de seus quatro álbuns editados. Este foi o primeiro show da turnê do novo disco, LSD, lançado recentemente. Um trabalho conceitual que, pelas faixas apresentadas no set, mostra-se um dos grandes petardos de 2.018. Mas que faltou Prayers in the wind, do projeto Hamlet, faltou. 
Imago Mortis mostrando trabalhos conceituais

Não conseguimos ver muito dos hermanos do Reytoro, pois foi neste momento em que rolaram as duas entrevistas citadas acima. Não obstante, o pouco que vimos foi suficiente para aprovar sua inclusão no line up. Em seguida, casamento, debutantes e um recital metal com direito a uma bela versão para The evil that men do, do Iron Maiden.

Finalmente seria o momento do grande headliner do River Rock. Os shows estavam todos seguindo à risca os horários, porém o Sepultura atrasou em uma hora a subida ao palco. Polícia, dos Titãs ecoou pelo festival antes da Intro que trouxe o quarteto que gravou Machine Messiah (leia a resenha do CD aqui). Abriram com as novas I am the enemy e Phantom self. As mais velhas tiveram sua vez, como a faixa-título Kairos, de 2.011, e a clássica Territory.
Único da formação original do Sepultura

A próxima me trouxe uma verdadeira nostalgia. Jamais imaginei que ouviria alguma vez na vida o Sepultura executar na minha frente - e olha que vi muitos shows dos caras - Innerself. Sem palavras! Entretanto, essa e Ratamahata, já no encore, ganharam versões mais cadenciadas e diferentes. Após Innerself, a banda deu seu "boa noite" contando que estavam na estrada há quase dois anos, o que explica o aparente cansaço dos músicos. Andreas anunciou que por comemorarem 20 anos da entrada de Derrick Green no grupo tocariam algumas da estreia do vocalista, Against (1.998).

Mais alguns hits e Arise encerrou a primeira parte do set, antes do bis, que contou com quatro músicas. Encerraram com Roots e aí, apesar de ainda ter mais três bandas a se apresentarem, devido ao avançar da madrugada, preferirmos voltar para casa. Até porque este texto ficaria ainda maior. Parabéns aos organizadores e que continuem trazendo eventos como esse a todos os roqueiros de Santa Catarina.

domingo, 19 de agosto de 2018

Entrevista antiga com Imago Mortis



(FOTOS: DIVULGAÇÃO) Imago Mortis toca em Indaial (SC) dia 8


IPA

Conforme prometido, segue a entrevista que a banda de doom metal carioca Imago Mortis concedeu ao extinto site Stormblast, que eu e meu amigo jornalista dos tempos de faculdade Marcello Silva mantínhamos no início dos anos 2.000. O motivo dessa abertura de arquivo é a presença do grupo no festival River Rock, em Indaial, que rola entre os dias 7 e 9 de setembro, ao lado de Sepultura e Blues Etílicos e mais cerca de 40 nomes do rock de todas as vertentes.

Como a entrevista é antiga, de 2.002, lógico que Fábio Barretto não fez a tradicional relação banda/cerveja, que é tradição no SP&BC, mas eu já apontei aqui qual acredito ser a melhor opção para acompanhar esse som, ou seja, a boa e velha IPA. Divirta-se com o resgate.

A banda carioca Imago Mortis estreou em disco com “Images From The Shady Gallery”, em 1.998. De lá para cá, Fábio Barretto, baixo, Alex Voorhess, vocal, Fabrício Lopes, guitarra, Alex Guimarães, teclado e André Delacroix, bateria, seguem conquistando seu espaço. 

A participação no álbum “William Shakespeare’s Hamlet”, projeto da Die Hard Recors, atual selo do quinteto, foi um ponto alto. Mas, sem dúvida, o novo trabalho, “Vida: The Play Of Change” vai dar o que falar. Nada melhor que o próprio grupo fale a respeito de sua carreira e do novo disco e para isso batemos um papo com Fábio Barretto.

O primeiro álbum do Imago Mortis é de 1.998. Como se explica ele estar entre os melhores discos dos anos de 1.997, 1.998 e 1.999 em várias revistas?
FABIO BARRETTO: Este episódio de nosso disco ter saído durante três anos nas listas de melhores do ano foi algo realmente curioso, é um fato que só pode nos deixar orgulhosos, quer dizer, isto mostra que a galera gostou mesmo do CD. O Images... foi citado na lista de melhores de 1.997 da “Rock Press” pela votação da redação. Isto ocorreu porque, embora este CD só tenha saído na segunda metade do ano seguinte por um atraso da gravadora, ele estava previsto para ser lançado em dezembro de 1.997 e algumas pessoas da imprensa já tinham escutado a master. Já em 1.998, que foi realmente o ano do lançamento, entramos nas listas de melhores do ano pela “Roadie Crew”, “Rock Brigade” e “Showbizz”. Uma grande surpresa que tivemos foi que o Images... foi citado como um dos melhores de 1.998 também pela revista grega “Invader”, isto foi realmente um presente e tanto para nós... Já em 1.999 saímos na lista da “Metalhead”, não sei explicar como isso aconteceu, acho que a galera votou e o pessoal da redação aceitou, talvez por não termos entrado na lista deles em 1.998... Bom, o importante é que só temos a agradecer por isto!

Como foi a repercussão do trabalho de vocês no projeto Hamlet?
FABIO: Cara, foi maravilhosa... Desde o início, quando recebemos o convite para participar do Hamlet, ficamos absolutamente apaixonados pelo projeto. É claro que mergulhamos fundo para compor uma música à altura, procuramos absorver cada detalhe da tragédia de Hamlet, sentir a personalidade de cada personagem, captar os simbolismos ocultos na história... A nossa música, Prayers in the Wind, marca um momento que considero especialmente dramático no Hamlet, que é quando o Rei Claudio, que tramou o assassinato do próprio irmão para usurpar a coroa da Dinamarca, finalmente enxerga a vilania de seus atos e percebe que não há salvação para seus pecados. Esta é uma música sobre um vilão diante do espelho, e nós procuramos realmente nos colocar na pele do vilão, tentar sentir o que ele sentiu e traduzir isto em música. Quer dizer, esta música, como tudo o que fazemos, está impregnada de paixão, o nosso sangue está em cada nota, e isto acaba sendo passado para as pessoas de alguma forma. A receptividade que obtivemos com a Prayers in the Wind não poderia ter sido melhor.

Normalmente conversar com pessoas que passam por algum problema de saúde, ou até alguma deficiência física, é muito difícil, pois muitas se sentem constrangidas com o fato. Foi muito complicado fazer a pesquisa para o tema do novo CD?
FABIO: Neste disco nós procuramos traduzir em música a experiência de um encontro com a morte. Para conseguir isto, é claro que foi necessário pesquisar muito, estudar muito e, principalmente, pensar muito sobre a morte. Pode acreditar em mim, esta não é uma tarefa nada fácil. É como diz a frase do Nietzsche [N. R.: Friedrich Nietzche, filósofo alemão, 1844-1900]: “Se você olhar dentro do abismo, o abismo olhará dentro de você”. Quer dizer, isto não é algo que se faça de uma forma leviana, foi um trabalho que envolveu muita reflexão e seriedade. Foi muito bom você ter feito essa pergunta, pois assim podemos esclarecer melhor este assunto. Para fazer este disco, nós estudamos sobre pacientes portadores de doenças terminais, e até chegamos a ter contato com algumas pessoas que hoje, infelizmente, não estão mais entre nós. Mas este contato foi meramente um contato entre seres humanos, todos igualmente fadados a desaparecer algum dia. Nós jamais iríamos chegar para uma pessoa gravemente enferma e perguntar como é estar morrendo, ou algo assim, como se estivéssemos fazendo um trabalho pro colégio... isto seria algo indigno, exatamente o oposto do que buscamos construir com este disco. Esta compreensão racional do que significa estar morrendo pode ser adquirida através da leitura, há toneladas de livros sobre este assunto. Mas há também uma compreensão emocional da morte, que não se obtém através de livros ou fazendo perguntas... foi este tipo de compreensão que nós buscamos no contato com estas pessoas, pois a emoção é justamente o que é mais importante transmitir numa música.

Banda passou um tempo parada
Vida é um disco conceitual. O “trampo” que dá para fazer um disco assim é proporcional à satisfação por ele estar pronto?
FABIO: Cara, falando de uma forma muito honesta, acho que é mais adequado falar em alívio que em satisfação. É claro que há muita satisfação envolvida também, quando vemos o CD pronto, com uma produção tão esmerada, realmente é algo como a concretização de um sonho. Mas acho que o sentimento principal é de alívio, sinto que uma etapa foi cumprida, uma missão foi levada a cabo, uma longa jornada chegou ao fim. Quando começamos a fazer este disco, nem de longe suspeitávamos que as coisas iriam caminhar desta forma, as idéias foram surgindo de forma torrencial, a ponto de virar quase uma obsessão... Quando penso neste assunto, lembro do que disse Herman Hesse a respeito de um de seus melhores livros, “Viagem ao Oriente”: “Ou eu escrevia este livro ou ficava louco”... Por isto a sensação de alívio, o “Vida” saiu e eu não fiquei louco. Ou, pelo menos, não fiquei mais louco...

Você acha que as pessoas podem sentir mais dificuldade em entender um trabalho conceitual?
FABIO: No caso do “Vida”, não, de forma alguma. Ao contrário, acho que é muito fácil compreender a essência deste álbum. A nossa maior preocupação, durante a composição do “Vida”, foi a de deixar clara a mensagem. É claro que existem obras ditas conceituais que realmente são difíceis e até mesmo impossíveis de se compreender, mas acho que isto acontece porque algumas pessoas têm a concepção errônea de que quanto mais obscuro e confuso for um trabalho, mais “artístico” ele será. Em minha opinião, a arte acontece quando ocorre uma comunicação “entre corações”, entre o coração do artista e o coração de uma outra pessoa diante de sua obra. Este não é um papel meramente passivo, é claro, a pessoa precisa entrar com os seus conteúdos, é necessário algum “esforço” para desvendar a obra. Mas no caso particular da música, este processo é imensamente facilitado, porque a música penetra no corpo primeiro, e só depois vai para a cabeça. É óbvio que há muitos conteúdos e simbolismos secundários em um trabalho como o “Vida”, mas para que alguém possa “entender” a essência deste álbum, basta colocar no CD player e deixar rolar...

De quem foi a idéia do jogo The Play of Change? É possível explicá-lo?
FABIO: Este jogo foi concebido e escrito por mim e pelo Fabrício. “The Play of Change” é uma faixa multimídia onde cada uma das músicas do “Vida” foi representada por uma carta, tal como no Tarot. O jogo pode ser dividido em duas partes, basicamente. Na primeira parte, o jogador sorteia seis dentre as cartas, construindo desta forma uma versão diferente para a história contada no “Vida”. Algumas versões possuem apenas diferenças sutis, outras são radicalmente diferentes... Existem ao todo 2.985.984 combinações, ou seja, são quase três milhões de maneiras diferentes de contar a mesma história, que é a história de um encontro com a morte. A segunda parte do jogo começa com o final da história, pois ao sortear as seis cartas o jogador está ao mesmo tempo montando um hexagrama do I Ching, que responderá a uma pergunta feita no início do jogo. É possível fazer perguntas sobre o presente ou sobre o futuro, envolvendo questões pessoais ou mesmo assuntos coletivos, e a resposta é dada por um oráculo do I Ching, que é o mais antigo método divinatório conhecido.

A capa de Vida é muito bonita. Existe algum conceito nela?
FABIO: Acho que a simplicidade é o grande trunfo desta capa. Ela é super direta, mas não se esgota em uma primeira olhada, muito pelo contrário. Dá para fazer inúmeras associações entre a criança, o título do disco, o logo da banda e a caveira ao fundo... Eu até prefiro não explicitar nenhum conceito, pois acho muito mais enriquecedor que cada um faça suas próprias associações.

A idéia da ilustração foi da banda?
FABIO: Quem fez toda a parte visual foi o Rodrigo Cruz, que é realmente um artista fantástico e que se mostrou inspiradíssimo neste trabalho. Nós enviamos as letras e algumas idéias básicas para o Cruz, tais como os elementos que queríamos que entrassem em cada carta etc., mas o mérito maior foi completamente dele, pois ele soube realmente absorver e traduzir em imagens o conceito do “Vida”. Quanto à capa propriamente, foi um processo super coletivo, ficamos entre duas versões bastante diferentes, ambas igualmente bonitas, e todos deram sua opinião, desde o pessoal da Die Hard até os amigos e vizinhos! Ao final acabamos optando por esta. Cada vez mais vejo que fizemos a escolha acertada.

Sabemos que o MP3 é uma tendência. Mas você sabe me dizer se os fãs de bandas de heavy metal nacional deixam de comprar os álbuns dos artistas brasileiros em favor da troca de arquivos?
FABIO: Esta é uma tendência mundial, mas acredito que o heavy metal é menos afetado que outros estilos “da moda”, tais como pagode, funk etc. Os fãs de heavy metal são os mais fiéis, e acredito que há uma consciência maior no sentido de não prejudicar as bandas. Mas certamente o MP3 é algo que veio para ficar, por isto mesmo colocamos três músicas do CD em nosso site, pois isto acaba divulgando o trabalho da banda, mais pessoas podem conferir o som e decidir se vale a pena ou não comprar o CD.

Por que o hiato tão grande entre Images From The Shady Gallery e Vida: The Play Of Change?
FABIO: Acho que levamos o tempo necessário para lançar o segundo CD, nem mais nem menos. No logotipo do Imago utilizamos o símbolo de Plutão, não somente por sua beleza, mas também por seu simbolismo, que é muito rico. Plutão é o Senhor dos Mortos na mitologia greco-romana e, na astrologia, o planeta que representa a morte e a destruição. Um ano de Plutão equivale a mais de duzentos anos terrestres, e é justamente por este motivo que a sua influência é tão significativa. Enquanto a Lua ou Mercúrio, por exemplo, influenciam modas ou humores passageiros, a influência de Plutão se estende por toda uma geração.

domingo, 12 de agosto de 2018

Festival estilo Wacken em Indaial

Evento conta com Sepultura no line-up


A região de Timbó e Blumenau, em Santa Catarina, tem um festival bem ao estilo do Wacken Open Air, da Alemanha. Três dias de acampamento regados com muito rock'n'roll e heavy metal em Indaial com bandas importantes do cenário nacional e internacional.


O River Rock Festival acontece nos dias 7, 8 e 9 de setembro, na Rodovia BR 470, km 66, em Indaial. Esta já é a 15ª edição. No ano passado, por exemplo, se apresentaram Casa das Máquinas, Cólera, Vulcano e Ragnarok (Noruega).

Para 2.018, o principal nome é o Sepultura,  além de Imago Mortis, Blues Etílicos e muitos outros nomes, inclusive da cena catarinense, comemorando 25 anos de estrada - veja cartaz.

Tive a oportunidade de entrevistar o Imago Mortis há um bom tempo para um site antigo que mantinha ao lado de outro colega jornalista. Daqui uns dias a publicarei aqui. Já o Sepultura dispensa comentários. Para ficar por dentro dos ingressos clique aqui. Programe-se e deixe a cerveja com a organização. Aliás, uma Weiss seria uma boa, pois vamos precisar de refresco.

domingo, 8 de julho de 2018

ARTIGO: Ainda há espaço para as últimas turnês?


Bandas apelam para vender ingressos 


Para escrever essas poucas linhas preferi abrir uma Catharina Sour, uma cerveja azeda (sour, em inglês), afinal, sinceramente, já deu esse lance de "vamos nos aposentar" e depois nada. No final, leia um pouco mais sobre ela.

Pensei no assunto depois que vi o anuncio de que Alice Cooper vai lançar outro disco ao vivo no final de agosto intitulado A Paranormal at the Olympia Paris, fruto da turnê de seu último álbum Paranormal, de 2.017. O CD duplo foi gravado na capital francesa, como é possível imaginar, em dezembro.

E a apelação vem dos grandes nomes da música, gente que, convenhamos, não precisa disso. Vejamos alguns exemplos, Ozzy Osbourne, Lynynd Skynyrd, Kiss, Scorpions e por aí vai. Outros são mais íntegros como o Rush, que parou de fato, além dos Ramones.

Pelo menos, Tia Alice já avisou que não joga nesse time e enquanto puder tocar e o público quiser ele estará na ativa. Então, pessoal, menos aí, vai. Vamos produzir, assim como o Made In Brazil, que lançou seu terceiro DVD para comemorar os 50 anos de estrada e continua tocando por todo o país.

Portanto, não é legal essa apelação, não engana mais ninguém. O rock não precisa disso.

E a Catharina Sour


Vamos aproveitar para falar um pouco desse novo estilo de cerveja já que nesse dia 4 de julho a Catharina Sour foi catalogada pela mais importante instituição de juízes de cervejas do mundo, o Beer Judge Certification Program (BJPC). Ela agora pode ser julgada em todo o mundo em concursos oficiais que seguem essa normativa. 

O primeiro estilo nacional é uma cerveja ácida com adição de frutas, leve e refrescante, com baixo amargor, corpo leve e boa carbonatação. A graduação alcoólica vai de 4% a 5,5% e o índice de IBUs varia de 2 a 8.

A história da Catharina Sour começou em 2.015, em Santa Catarina, entre os produtores caseiros. Em 2.016, através da Associação Catarinense das Cervejas Artesanais (Acasc), depois de um workshop que contou com a participação de mais de 20 cervejarias, essas passaram a produzir a Catharina Sour profissionalmente.

Informação importante para nós, que além de roqueiros somos apreciadores de uma boa cerveja e que agora enche de orgulho os brasileiros.

sábado, 2 de junho de 2018

O poder de fogo do Judas Priest



English Pale Ale


Demorou, mas enfim o SP&BC vai comentar sobre o mais novo trabalho da lenda do heavy metal mundial Judas Priest, o já saudado Firepower. Para compensar tanto atraso, vamos abordar, também, os discos lançados há 10, 30 e 40 anos do quinteto inglês.

E lá se vão quatro anos desde o, então, último CD, o estranho Redeemer of Souls. Sim, não consegui me empolgar com ele, tanto que não me lembro de nenhuma faixa. E não faço questão. Mas esse décimo oitavo álbum de estúdio do Priest é uma obra digna da boa discografia da banda, descontando as escorregadas.

Por isso a escolha para harmonizar com essa verdadeira pedrada é uma English Pale Ale, uma cerveja tradicional, com boa presença de malte, para um nome de igual envergadura. Pode até parecer uma escolha óbvia, mas acredito ser, realmente, a que melhor se encaixa.

Firepower contém 14 músicas distribuídas em quase uma hora daquele heavy metal que caracterizou os longos 44 anos de estrada do JP. E é justamente isso que cativou. Sem falar na capa, estranha, porém ao mesmo tempo interessante É fato que, atualmente, os fãs andam preguiçosos e esperam sempre mais do mesmo. Haja visto a renovação quase inexistente na cena mundial - assunto complexo, diga-se, mas basta ler as tantas entrevista no blog.

Contudo, o uma banda que beira as bodas de ouro pode proporcionar? Querer que lancem discos completamente diferentes, criando novas tendencias etc é uma utopia. Basta, dessa forma, que não cometam deslizes como alguns exemplos de anos anteriores. E olha que mesmo assim há gente que pisa na bola. Outo fator, convenhamos: não é mais tão vantajoso lançar álbuns hoje em dia.

Formação


Somente o vocalista Rob Halford e o baixista Ian Hill ainda estão desde a formação original, sendo que o primeiro passou doze anos longe do Judas Priest, ente 1.991 e 2.003. Gravaram o novo disco, ao lado dos citados, os guitarristas Glenn Tipton, que já deu lugar a Andy Snap - você já cansou de ler sobre isso, com certeza - e Richie Faulkner e o baterista Scott Travis. Não vai ser o melhor lançamento de 2.018, mas vale o investimento. Cheers!


Stained Class


O quarto álbum de estúdio dos ingleses ganhou a luz do dia em 10 de fevereiro de 1.978. Segundo a revista Rolling Stone é o 43º melhor álbum de metal de todos os tempos. Só isso. E, embora listas serem sempre controversas, não deve ficar longe disso, afinal falamos de um disco com faixas como Exciter, Better by you, better than me, a faixa-título e a balada Beyound the realms of death.

Um ótimo LP que ainda contava em sua formação com o baterista Lee Binks, além dos quatro, digamos, membros mais que clássicos (forcei?) Rob Halford, Ian Hill, e os guitarristas Glenn Tipton e K.K. Downing. Excelente! 

Claro que ainda há, em 1.978, o registro de Killing Machine apenas na Inglaterra, porém chegou nos Estados Unidos e outros países somente no ano seguinte e com outro título, Hell bent for leather, o blog achou melhor considerá-lo somente para 2.019. Questão de critérios.


Ram it down


Em 17 de maio de 1.988, O Judas lançava Ram it down, o décimo primeiro de estúdio do quinteto. Disco de ouro, o que significa 500 mil cópias vendidas. Resultou na turnê mais longa dos anos 1.980 com 102 shows.

O álbum precisava ser, de fato, matador, pois seu antecessor é o controverso pop Turbo, de dois antes. Igualmente significa o último do batera Dave Holland, que tempos depois se envolveu em problemas com a justiça.

É uma bolacha que devolveu a banda no caminho correto, ou seja, fazendo o que sabe melhor: heavy metal. Para conferir, caso ainda não conheça.


Nostradamus


As bandas, de um modo geral, precisam se reinventar, trazer novas propostas e não ficar sempre fazendo o mesmo disco. Ponto. Já está lá em cima. No entanto, alguns casos são perfeitamente perdoáveis, afinal, Ramones e Motorhead sempre fizeram o mesmo disco e não há reclamações. Gostaria de incluir, com sua permissão, nesse grupo o Judas Priest.

Todas as vezes que o Padre britânico tentou fazer algo "diferente" não conseguiu o mesmo êxito. E mesmo este Nostradamus, não sendo de todo modo ruim, ao mesmo tempo não podemos dizer que está entre os imperdíveis da discografia dos caras.

Trata-se de um álbum duplo, conceitual, que conta a história do vidente e alquimista francês Nostradamus (sério?), muito conhecido pelas suas previsões. Don Airey, atualmente no Deep Purple, tocou teclado no trabalho. Para entender.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Higher: do jazz ao heavy metal

O heavy não seguirá se novas bandas não tiverem espaço

Banda paulista prepara o sucessor do debut com calma



O quinteto de heavy metal de Campinas, interior de São Paulo, Higher nasceu depois que os fundadores Cezar  Girardi, vocal, e Gustavo Scaranelo, guitarra, músicos profissionais e com experiência no jazz e na música instrumental, iniciaram a Second Heaven, em 1.995. A paixão da dupla pelo metal, naquela época, não foi suficiente para manter as atividades e após dois anos o projeto virou fumaça.

Passaram a se  dedicar aos estudos acadêmicos, o que os levou para outros estilos. Contudo, o heavy metal falou mais alto e os dois voltaram a trabalhar juntos em uma nova banda, Higher. Em 2.014 saiu a estreia homônima que foi muito bem recebida pelo mercado. Afinal, um disco que abre com uma faixa como Lie mostra que a formação não está para brincadeiras.

O blog SP&BC foi bater um papo com Gustavo Scarnelo para saber das novidades e a previsão do tão esperado novo álbum e conseguiu algumas revelações. Principalmente que o guitarrista é um bom conhecedor de cervejas. Veja o que ele sugere, nesta página, para harmonizar com algumas bandas.
Cezar Girardi e Gustavo Scaranelo são dois músicos profissionais bastante experientes e
respeitados no cenário da música brasileira, especialmente nos campos do jazz e da música
instrumental. Entretanto, nutrem outra característica em comum: a paixão pelo heavy metal.
Em 1995 fundaram a Second Heaven, banda que não deixou registros e foi desativada dois
anos depois. A dupla passou então a se dedicar aos estudos acadêmicos de música, o que
acabou por levá-los para outros segmentos onde fizeram carreira. Mas a paixão pelo metal
manteve-se pulsante durante todo esse tempo. Depois de uma conversa, decidiram reunir-se
para tocar e compor heavy metal novamente. O resultado? Uma nova banda: Higher!
A Higher traz enraizada algumas características singulares: é uma banda formada única e
exclusivamente pela paixão dos músicos pelo heavy metal, ou seja, o trabalho é livre de
qualquer pretensão comercial ou mercadológica que eventualmente pudesse interferir no
aspecto artístico; essa própria experiência em outros estilos naturalmente conferiu-lhes uma
musicalidade deveras original, repleta de identidade, como nunca se ouviu antes!
Cezar Girardi e Gustavo Scaranelo são dois músicos profissionais bastante experientes e
respeitados no cenário da música brasileira, especialmente nos campos do jazz e da música
instrumental. Entretanto, nutrem outra característica em comum: a paixão pelo heavy metal.
Em 1995 fundaram a Second Heaven, banda que não deixou registros e foi desativada dois
anos depois. A dupla passou então a se dedicar aos estudos acadêmicos de música, o que
acabou por levá-los para outros segmentos onde fizeram carreira. Mas a paixão pelo metal
manteve-se pulsante durante todo esse tempo. Depois de uma conversa, decidiram reunir-se
para tocar e compor heavy metal novamente. O resultado? Uma nova banda: Higher!
A Higher traz enraizada algumas características singulares: é uma banda formada única e
exclusivamente pela paixão dos músicos pelo heavy metal, ou seja, o trabalho é livre de
qualquer pretensão comercial ou mercadológica que eventualmente pudesse interferir no
aspecto artístico; essa própria experiência em outros estilos naturalmente conferiu-lhes uma
musicalidade deveras original, repleta de identidade, como nunca se ouviu antes!
Cezar Girardi e Gustavo Scaranelo são dois músicos profissionais bastante experientes e
respeitados no cenário da música brasileira, especialmente nos campos do jazz e da música
instrumental. Entretanto, nutrem outra característica em comum: a paixão pelo heavy metal.
Em 1995 fundaram a Second Heaven, banda que não deixou registros e foi desativada dois
anos depois. A dupla passou então a se dedicar aos estudos acadêmicos de música, o que
acabou por levá-los para outros segmentos onde fizeram carreira. Mas a paixão pelo metal
manteve-se pulsante durante todo esse tempo. Depois de uma conversa, decidiram reunir-se
para tocar e compor heavy metal novamente. O resultado? Uma nova banda: Higher!
A Higher traz enraizada algumas características singulares: é uma banda formada única e
exclusivamente pela paixão dos músicos pelo heavy metal, ou seja, o trabalho é livre de
qualquer pretensão comercial ou mercadológica que eventualmente pudesse interferir no
aspecto artístico; essa própria experiência em outros estilos naturalmente conferiu-lhes uma
musicalidade deveras original, repleta de identidade, como nunca se ouviu antes!


Por favor, Gustavo, pode nos apresentar o Higher, quando foi formado, membros e a troca de integrantes?
Gustavo Scaranelo – O Higher foi formado a partir do meu reencontro com o Cezar. Tivemos uma conversa sobre a possibilidade de registrar, através de gravações, o material que havia sido produzido num projeto que tivemos há mais de 20 anos. Quando iniciamos as gravações percebemos que havia algo novo ali e resolvemos rebatizar e reformular o trabalho todo. Novas composições surgiram para concluí-lo e assim nasceu o Higher. Após a pré-produção, chamamos o baterista Pedro Rezende e o baixista Andrés Zúñiga para gravar o disco. E, na sequência, o guitarrista Felipe Hervoso, para levarmos os resultados para os palcos. Algum tempo depois o baixista Will Costa veio substituir o Andrés e o Felipe foi substituído pelo Rodrigo Ribeiro. Foram bons momentos ao lado dos membros que iniciaram o projeto e temos tido bons momentos também ao lado dos novos integrantes.

O novo álbum já está pronto? Tem data de lançamento, título?
Gustavo - O álbum ainda não está pronto. Nunca tivemos muita pressa para compor. Selecionamos cuidadosamente o material que vai fazer parte do disco novo. Muita coisa é descartada. Acreditamos que o resultado precisa ser o melhor possível, não se volta atrás no lançamento de um disco, portanto não faremos sem o devido cuidado. O título já existe e divulgaremos em breve, mas ainda não temos data para lançamento.

Como foi a escolha do produtor Tiago Bianchi (Shaman, Noturnall) na estreia?
GustavoNa verdade o primeiro disco foi produzido por mim e teve a coprodução do Cezar, o Thiago entrou na fase das gravações, portanto foi quem mixou o trabalho. Ficamos satisfeitos com o resultado. O segundo disco será produzido, gravado e mixado por mim. Estou bastante ansioso com o início das gravações!

Cada vez mais menos pessoas ouvem CD

Qual a diferença entre esses dois trabalhos? Há mudança no direcionamento 
musical ou é o mesmo heavy metal do debut?
Gustavo – É difícil dizer quando se está tão perto assim da produção, acredito que existam algumas diferenças e já temos algumas opiniões de pessoas próximas, que ouviram algumas das novas composições, já arranjadas. Mas gostaria muito de ouvir a opinião dos fãs quando o trabalho estiver rodando por aí. Sempre me surpreendo positivamente com o que leio sobre o primeiro disco do Higher.

O primeiro disco foi muito elogiado. A recepção a ele foi a esperada tanto de crítica quanto de público?
Gustavo – Acredito que quando se lança um trabalho tão verdadeiro e honesto não se espera nada, somente a satisfação de tê-lo compartilhado. É claro que existe uma expectativa, mas nada foi feito em função dela. Tudo foi colocado e selecionado com a intenção de termos um disco que, nós mesmos, voltaríamos a ouvir várias vezes. A recepção da mídia e do público me deixou muito emocionado, desde os comentários estritamente musicais, até os relatos de como nossas letras influenciaram atitudes de nossos fãs! Essa é a melhor parte de tudo para mim!     
Qual a expectativa para esse novo lançamento, em quais formatos ele virá e qual o planejamento de divulgação?

Gustavo – Acredito que ainda não abriremos mão da distribuição física do disco, mas o que temos observado é que cada vez menos pessoas possuem meios para ouvir CD em casa ou no carro, o que nos fez pensar em disponibilizá-lo, em um primeiro momento, apenas na versão digital, mas nada está definido, estamos focados nas composições e por ora é o que precisamos fazer. A estratégia de divulgação está sendo discutida junto à nossa assessoria de imprensa, o Som do Darma, e logo teremos mais clareza dos meios que utilizaremos para isso.       

Pretendem lançar o CD no exterior?
Gustavo - Bom, certamente o disco estará disponível digitalmente para compra e streaming, isso acredito que basta para que a divulgação do trabalho atinja o cenário estrangeiro para termos o nosso disco ouvido e comentado em outros países. Quanto à distribuição física, isso depende de vários outros fatores, e ainda não temos essas respostas.

O processo de composição agora foi diferente, já que, teoricamente, tiveram menos tempo para preparar as músicas?
Gustavo - Na verdade não tivemos menos tempo, e estamos usando todo o tempo que precisarmos para concluir o trabalho com a mesma convicção que concluímos o primeiro álbum. O processo de composição continua o mesmo, as músicas nascem de canções e depois ganham toda a roupagem que precisam para ir para o disco. Nesse novo trabalho teve uma composição que nasceu como balada, mas se tornou uma das músicas mais pesadas do novo álbum depois que recebeu o arranjo (risos). As coisas se transformam quando colocamos nossas ideias para conversar.

Vai ser um lançamento independente?
Gustavo – Sim. Ainda não buscamos parcerias e não acredito que o faremos até o lançamento. Apesar de estarmos abertos às parcerias, não iremos despender o tempo destinado à composição e produção do trabalho com isso. Depois de pronto, tudo pode mudar.

Existe uma expectativa para que algumas faixas tenham uma maior aceitação?
Gustavo - Não. Não acredito que estejamos à busca de mais aceitação, queremos agradar quem estiver disposto a ouvir e se identificar com o nosso trabalho. Até porque a aceitação, até o momento, é maior do que imaginávamos, e isso é ótimo!

Trabalharam algum cover?
Gustavo - Não temos a intenção de gravar nenhum cover neste disco. Acredito que quando uma banda firma seu estilo e sua identidade então passa a existir algum sentido em fazer a releitura do trabalho de alguém através de um cover, mas não antes. Por ora, o Higher quer mostrar o seu trabalho, sua criação!

Vamos unir duas paixões dos roqueiros: música e cerveja. Vocês gostam de cerveja artesanal? Qual o estilo preferido?

Gustavo -  Gosto muito, mas não saberia dizer o estilo preferido, posso citar aqui duas das minhas favoritas: Tripel Karmeliet e Westmalle Dubbel.

É cedo ainda, mas já imaginou um rótulo de cerveja do Higher? Qual estilo seria?
Gustavo - Já sim! O meu irmão, também guitarrista, costuma fabricar algumas cervejas e eu sou fã dos resultados dele. Acredito que no futuro teremos alguma parceria para chegarmos em um consenso quanto ao estilo, mas eu diria que o Higher combina melhor com um estilo forte, amargor acentuado e encorpada.

Algum recado para os fãs?
Gustavo – Sim! Continuem a dar atenção ao metal autoral nacional! Muita coisa boa nasce desta terra e não podemos acreditar que o gênero irá seguir a diante se novas bandas não tiverem espaço. Obrigado pelo carinho e pela atenção com o nosso trabalho! Digo o mesmo à vocês da imprensa, sem os quais muitos dos nossos fãs ainda não teriam chego até nós.