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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Rock gaúcho underground


Rock, cerveja, putaria e churrasco, a receita do Cartel

APA



Imagine o Tankard, banda de thrash metal alemã que fala sobre cerveja. Poderíamos até sugerir que seria uma que encara bem o espírito do blog SP&BC. Entretanto, uma formação oriunda de Porto Alegre (RS), denominada Cartel da Cevada, é a bola da vez - embora aqui ficamos somente entre cerveja e rock, bem explicado.

Com um som rasgado, sujo e adicionando elementos regionais, para situar o amigo rock'n'roll, mal comparando, seria como se o Carro Bomba ao seu estilo cantasse letras feitas pelas Velhas Virgens e adicionasse o tema churrasco.

Na estrada desde 2.004 e atualmente contando com Igor Assunção, vocal e guitarra, Nando Rosa, guitarra, Leo Bacchi, baixo, Alberto Andrade, bateria, e Santto Nerva encarando uma fantasia de "O Diabo", o Cartel da Cevada foi uma das atrações do River Rock (leia aqui), de Indaial, em setembro último.

Após o show, nós - entenda Programa Lendas do Rock - fomos bater um papo com o líder do grupo, Igor Assunção para conhecer mais sobre mais esse nome do nosso rico underground. Ah, devido às circunstâncias, as tradicionais perguntas sobre qual cerveja combina com determinada banda ficaram de fora. Porém a que recomendei, na verdade, é a opinião do entrevistado.


Fazer som autoral no Brasil.
Cara, tem que se desdobrar, não é fácil. Mas fazemos o que amamos, o que compomos. É um estilo de vida. Por que tocamos? Nem sabemos exatamente, a palavra é amor mesmo. É bem difícil, temos que nos reinventar o tempo todo, nos aperfeiçoar e conseguir recursos para conseguir gravar os discos. Nesse mais recente, Cartélico Volume 1: Fronteira, trago e querência, tivemos apoio da Secretaria de Cultura de Porto Alegre. Para isso fizemos um projeto que foi aprovado. Para lançar tivemos uma "vaquinha virtual", o crowdfunding. E todo valor de merchandising que a banda tem foram os fãs que nos ajudaram. Da mesma forma, no final do ano passado gravamos um DVD e o custo para gravá-lo foi [outra] "vaquinha virtual", afinal, o Brasil não é o pais do rock’n’roll. É um país de varias outras coisas, mas com certeza não é do rock’n’roll e nem do metal. No entanto somos felizes pelos fãs que temos.
Política é importante, mas o Cartel da Cevada é para se divertir

Letras.
Quando começamos, na época do primeiro disco, éramos uma gurizada tocando sobre festa, putaria, cerveja, churrasco, que era o que fazíamos para nos divertir. Nos outros trabalhos fomos amadurecendo e criando uma outra identidade. E sempre brincamos com o sotaque gaudério [N. do R.: algo como gaúcho de nascença], na maneira de contar as histórias, os contos, "causos" etc. E nesse álbum mais recente há alguns conflitos psicológicos. Algumas criticas que não são nem veladas à sociedade em que vivemos. Sempre prezamos pela cerva com os amigos, rock, pelo churrasco porque a vida é muito sofrida. Claro que nos importamos com a situação política, mas o som do Cartel é para as pessoas se divertirem, extravasarem.

Rock gaudério?
Nos chamam de rock bagual [N. do R.: do Sul do Brasil]. Já nos chamaram de rock gaudério, rock gaúcho. Fazemos rock’n’roll mesmo, sujo, pesado, "bagaceira"; tentamos nos divertir.

Não tocar em rádio.
Em um cenário mainstream não temos espaço. Ainda existe o jabá. O mercado é dividido assim. Querendo ou não, é um negócio e se a pessoa tem grana para investir em seu negócio, ok. No independente gaúcho a galera é muito antenada com o marketing digital, internet e trabalham bem. Tivemos que aprender, nos adaptar, pois fazíamos de um jeito, mudou, enfim. Tem rolado, sem muito investimento, afinal são os fãs que nos ajudam. E temos algumas bandas excelentes como Catarse, Ácida, do Rio Grande do Sul, que trabalham bem isso. A estrada é muito importante, haja visto o [festival] River hoje, que estava lotado. Muito bom, principalmente essa união de todas as tribos.

Cerveja.
Uma IPA ou APA bem amargas, de preferência. Inclusive produzimos duas cervejas, uma IPA, chamada A Barbada, e uma American Salt Pale Ale, a Fronteira, uma homenagem ao título do nosso novo disco que se chama Fronteira, trago e querencia. Nos aventuramos nesse universo cervejeiro fazendo umas cervas. Vou mandar umas para o blog para você provar [N. do R.: estamos esperando].