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domingo, 3 de dezembro de 2023

TERMINOU: KISS, a dinastia do rock

 

FOTO: Divulgação

Dark strong ale

A banda estadunidense de hard rock Kiss fez seu último show - caso não mudem de ideia pela segunda vez - nessa sexta-feira, dia 2 de dezembro, no Madison Square Garden, em Nova Yorque, onde tudo começou. Se bem que a partir de agora vão adotar o formato avatar... Não é segredo para ninguém o quanto sou fã do quarteto. Tem matérias aqui no blog SP&BC, no canal do Youtube e outras mídias ao longo da minha carreira.

Mas uma é muito especial. Trata-se do que você vai ler a seguir. Já é sabido que estou disponibilizando todos os meus trabalhos do período em que fui colaborador da Revista Valhalla (2003-2007). Na primeira edição em que meu nome apareceu nos créditos, a #21, havia essa Biografia sobre os mascarados de NYC.

É um trabalho que me dá tanto orgulho que por isso escolhi uma Dark Strong Ale para acompanhar enquanto o releio junto com você - sim, não mexi uma vírgula sequer para não perder nenhuma característica, mesmo que "datada". Sobre a cerveja, bem, é a minha favorita, altíssimo teor alcoólico, 10%, uma bebida elegante para uma ocasião idem.

A Bio foi uma seção da Valhalla Metal Magazine - tempos depois passaria a se denominar Rock Hard/Valhalla - e foi dividido em duas edições, o que também estou fazendo aqui. Significa então que a segunda vai obedecer a ordem cronológica de textos  imposta ao projeto. Naturalmente precisaria de uma terceira parte para completar essa carreira - aqui cobre-se "apenas" as três primeiras décadas, mas dependendo da aceitação posso atualizar.

Antes de iniciar, vale dizer que na Amazon você encontra muito material de hard rock, inclusive tem uma listinha com CDs até R$ 50. Clica aqui e dá uma conferida. Boa leitura, saúde!!

 

KISS: 30 anos de sexo, Rock’N’Roll e muito mais

Texto: Vagner Aguiar

Responda depressa: Quantas bandas você pode enumerar com 30 anos de existência e ainda na ativa? Difícil, certo? Daí a conclusão de que não é fácil aguentar firme três décadas na batalha. Dessa forma, nada mais justo que um desses representantes ganhe um espaço nesta seção digno de sua importância, ou seja, a “Biografia” do Kiss ocupando duas edições da sua revista favorita. E a primeira parte você acompanha a partir de agora.

Quero ser rockstar!

Haifa, Israel, 25 de agosto de 1949. Local e data do nascimento de Chaim Witz, filho de mãe húngara vinda de um campo de concentração nazista e pai carpinteiro. Nove anos mais tarde, esse então garoto muda-se juntamente com sua mãe divorciada para os Estados Unidos, onde é rebatizado, atendo a partir daí como Eugene Klein, futuro Gene Simmons.

Fã de história em quadrinhos, desenhos animados e filmes de gêneros como terror e ficção científica, ao presenciar os Beatles na TV, em 1964, decide-se pela profissão de músico, apesar de ter-se formado como professor de línguas, pouco depois. Na luta por uma banda, conhece Steve Coronel. Tornam-se parceiros. Coronel conhecia um guitarrista que acreditava ser a pessoa ideal a ocupar o posto que faltava. Porém o baixista Klein e o futuro guitarrista, Stanley Harvey Eisen (20/1/52), mais adiante Paul Stanley, se estranharam duas vezes antes de toparem trabalhar juntos.

A matéria em duas páginas da revista

O primeiro nome escolhido foi Rainbow, no fim de 1970. Entretanto, logo mudam para Wicked Lester. Sob este último epíteto, gravam uma demo que despertou o interesse da Epic em vê-los ao vivo. Esse contato serviu apenas para os chefões do selo pedirem a cabeça de Coronel por achar que seu visual não combinava.

Diz a lenda que, em maio do mesmo ano, a dupla central viu um show do pré-Punk/Glitter New York Dolls, o que norteou todo o conceito da maquiagem. A inspiração para isso também veio de todo o restante dessa mesma onda Glitter, T-Rex, Alice Cooper e outros, além do que Simmons costumava ler/assistir quando menino. Outra lenda reza que Gene foi influenciado pelos Secos & Molhados nas “make up”.

Numa edição de abril de 1972 da revista Rolling Stone, Peter Criscoula (20/12/1947), mais tarde Peter Criss, anuncia algo mais ou menos assim: “Baterista com 11 anos de experiência procura banda disposta a qualquer coisa pelo sucesso”. Mediante tal entusiasmo, Simmons e Stanley convidam o músico para fazer um teste, no qual é aprovado.

Com a banda já completa partem para mostrar novas músicas para a Epic. Nesse início, não tocavam covers, já que, segundo Stanley, para a MTV, como não tinham “dinheiro para comprar discos o jeito era compor músicas. ‘Firehouse’, por exemplo, foi baseada em ‘Fire Brigade’, do inglês The Move, por tê-la ouvido”. Material recusado.

O trio tinha a consciência de que precisava de uma guitarra solo, assim, através de anúncios, marcam uma audição para janeiro de 1973 quando surge uma legião de aspirantes ao cargo. Bob Kulick estava quase aceito, só que o visual – de novo – não ajudava. Paul Daniel Frehley (27/4/51) entrou atrasado já ligando sua guitarra no amplificador. Para que os testes ficassem completos, o trio tocaria “Deuce”, composta pelo baixista, onde Frehley teria que encaixar um solo. Moleza! O emprego era dele, precisando apenas mudar de nome devido haver outro Paul no grupo. Identicamente fácil, só usar um apelido de infância: Ace.

Desse modo se formou a primeira encarnação do Kiss, nome sugerido por Stanley. Nada a ver com Garotos A Serviço De Satã, como foi divulgado no Brasil nos anos 80, era “beijo” mesmo. Ace Frehley, chegado em artes, desenhou o logotipo.

A estréia em palcos ocorreu no Coventry, na cidade natal Nova Iorque, em três datas, de 30 de janeiro a 1o de fevereiro. Menos de cinco pessoas testemunharam cada apresentação dessas. Neil Bogart, dono do então novíssimo selo Casablanca, recebe uma demo do igualmente então novo conjunto. Impressionado, vai assisti-los de perto em agosto de 1973. Garantidos por uma gravadora, a hora de registrar o tão sonhado LP chegava.

Gravado em NYC, em outubro do mesmo ano e lançado em fevereiro de 1974, Kiss já abre com uma composição da dupla Stanley/Simmons: a clássica “Strutter”. Outras poderosas: “Firehouse”, “Cold Gin”, “Deuce” e Black Diamond”. O álbum vendeu devagar, não sendo nenhum estardalhaço, mas até que foi bem ficando entre os 100 da parada.

A foto da capa – uma leve troca de posição e a escandalosa influência de With The Beatles, dos Fab Four – apesar de trazer as quatro caras pintadas mais manjadas da história do Rock com seus respectivos personagens, mostrava que Gene (Demon), além de estar “guardando sua língua” para mais tarde, teria alguns retoques a fazer e que Peter (o Gato, por acreditar ter sete vidas), que somente dessa vez usou um maquiador profissional – eles mesmos cuidam disso –, ficou, digamos, bem diferente da forma conhecida. Paul (Starchild, a estrela no olho fazia referencia ao seu desejo pelo sucesso) e Ace (Space-Ace, o homem que veio do espaço) já possuíam seus traços definidos.

No mesmo mês de fevereiro ocorre o primeiro show fora de Nova Iorque, em Edmonton, Alberta. Por falar em show do Kiss, algo além da música, que sempre é alta, pesada e enérgica. Explosões, bateria levitando, Gene cuspindo fogo e queimando o cabelo várias vezes até acertar o truque, além de vomitar sangue, a guitarra de Ace soltando fumaça enquanto que a de Paul era quebrada no fim do set: isso era uma apresentação do quarteto. Ninguém ousava tanto.

Com a idéia de que poderiam melhorar partem para Los Angeles a fim de gravar o sucessor do debut. Hotter Than Hell chega ao mercado em outubro do mesmo ano. O que mais chama a atenção é uma parceria entre Simmons/Coronel, na faixa “Goin’ Blind”, a primeira quase balada da banda. Registro de clássicos: “Got To Choose”, “Parasite”, “Watchin’ You” e “Let Me Go, Rock’N’Roll”.

A capa indicava algo como “já conquistamos o Japão”, o que não era certo ainda. Os números mostravam uma certa melhora nas vendas, porém nada de alarmante. Mas os shows começavam a lotar, espalhando a fama rapidamente.

Capas das #21 (frente) e #22

Agora vai…

A turnê da estréia emendou com a do segundo trabalho. O dono da Casablanca resolve tomar as rédeas e interrompe a “Hotter Than Hell Tour”, achando que devido a alguns singles se tornarem hits nas rádios, o momento de gravar o terceiro álbum era aquele. Apenas um ano após o LP auto-intitulado, a banda se encontrava num estúdio nova-iorquino novamente. O patrão Bogart, responsável direto por alguns sucessos de outros nomes, assume a produção e “sugere” um hino aos quatro. Stanley: “O presidente de nossa gravadora disse que precisávamos de uma música que expressasse nossa filosofia, que deixasse a galera louca e com a qual ela pudesse se identificar. Eu tive a idéia do refrão ‘I wanna rock’n’roll all night and party everday’ e o Gene fez o resto. Foi assim que ela surgiu”. O hino em questão é “Rock’N’Roll All Nite”.

O mercado conheceria Dressed To Kill em 19 de março de 1975, lançado num show em North Hamptom, na Pensilvânia. Na bolacha, temas dos tempos de Wicked Lester: “She”, escrita por Simmons/Coronel e “Love Her I Can”, composta por Paul. Outros clássicos são “Rock Bottom” e “C’mon And Love Me”. Na foto da capa, feita por Bob Gruen, que já havia dirigido o vídeo “Looking For A Kiss”, dos New York Dolls, os quatro trajando ternos. Beatles na cabeça. Claro que as botas plataforma estavam lá. Já que citamos “vídeo”, o conjunto ganhou o direito de fazer seu primeiro clipe, claro, da sua mais famosa cria, “Rock’N’Roll All Nite”, extraído de um concerto.

As vendas, apesar de aumentarem um pouco, ainda não seriam uma coisa, digamos, extraordinária, porém os shows sempre lotavam. Partindo deste raciocínio, não seria difícil supor que o estouro poderia vir de um álbum ao vivo. Alive! estréia na praça em setembro de 1975 e vende como pipoca em sessão de cinema, por volta de nove milhões de cópias. Alcança a nona posição na parada da Billboard, especializada em paradas, sendo o primeiro Top Ten! É deste duplo a versão imortalizada de “Rock’N’Roll All Nite” que você ouve em quase todas as coletâneas, afinal, o single chegou ao topo das paradas no começo do ano seguinte. Para a produção foi contratado Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Led Zeppelin). Há, aqui, acusação de uso de overdubs.

A agenda sempre lotada tomou os Estados Unidos de assalto de uma vez por todas. No final do ano, o selo editou uma caixa contendo os três discos de estúdio intitulada The Originals.

Depois da consagração, a tarefa mais difícil é se manter no alto. Sem problemas, pois o LP seguinte, Destroyer, com algumas “experimentações”, lançado em março de 1976, é um dos mais importantes álbuns, senão o mais, da banda até hoje. Novamente o produtor foi trocado e Bob Ezrin (Alice Cooper) assumiu. Ele até co-escreveu alguns dos clássicos: “Detroit Rock City”, “King Of The Night Time World”, “Shout It Out Loud”, “Beth” e “Do You Love Me”, além de “Great Expectations” e “Flaming Youth”.

Outro marco alcançado com esse disco foi estrear seu concerto fora do país de origem. Isso ocorreu na Inglaterra, em Manchester, dia 13 de maio. Uma apresentação obrigatória foi no famoso Hammersmith Odeon, em Londres, dias 15 e 16. A turnê ainda percorreu Alemanha, França, Holanda, Suécia e Suíça antes de retornar à terra do Tio Sam.

A balada “Beth”, de Peter Criss, atinge o sétimo lugar nas paradas com um milhão de cópias vendidas. É o primeiro single do grupo a ganhar disco de ouro. A banda atinge a popularidade máxima. A força do Kiss Army, o Exército do Kiss, como são chamados os fãs do quarteto, aumentava consideravelmente. Segundo os músicos, o “exército” é devido à fidelidade, facilmente observável até hoje.

Mas, mesmo Destroyer sendo um sucesso absoluto – tempos depois ganharia a platina – o grupo decide voltar à formula antiga no novo trabalho. Rock And Roll Over, editado em 11 de novembro de 1976, vende um milhão de cópias, o que significa o primeiro disco de platina. O single “Hard Luck Woman” atinge a 11ª posição nos charts. Nesse clipe, Criss é o que mais aparece, aliás, pode-se dizer que somente ele aparece. Eddie Kramer volta à produção. Outros clássicos: “I Want You”, “Calling Dr. Love” e “Making Love”.

Como curiosidade, vale o registro que Lester Bangs, um dos maiores jornalistas ligados ao Rock do mundo em todos os tempos, meio que dando uma de profeta, classificou o álbum como “grunge” devido a faixas como “I Want You” e “Making Love”. Esse disco levou a banda pela primeira vez ao Japão. O giro por aqueles lados começou com duas datas em Osaka, 24 e 25 de março de 1977, e encerrou-se com mais quatro na capital Tóquio. Recordes de público foram batidos.

A rotina não cessava e em 30 de junho de 1977 Love Gun chega às lojas contendo preciosidades como o tema-título, “I Stole Your Love”, “Christine Sixteen” e “Plaster Caster”, além de “Shock Me” marcar a estréia de Frehley nos vocais. Com este trampo, a banda chega ao quarto lugar nas paradas, recorde que durou 20 anos.

A concepção do show da “Love Gun Tour” fora muito importante, como veremos mais adiante. A turnê percorreu boa parte dos Estados Unidos e alguns lugares do Canadá, o que significou uma união de turnês natural, já que em novembro nascia Alive II. Este segundo duplo ao vivo trazia cinco músicas inéditas no lado “B” do disco dois.

A parte que dá nome ao trabalho foi gravada em três datas, de 26 a 28 de abril do mesmo 1977, no Forum de Los Angeles. Porém, “Beth” foi extraída de uma apresentação no Japão. Mais duas acusações: overdubs e a primeira vez que um dos próprios integrantes não grava. Não se sabe por que, mas Ace, segundo consta, tocou apenas em “Rocket Ride”, composta por ele, ficando a cargo de Bob Kulick o restante da parte de estúdio.

O semestre inicial de 1978 agendou mais cinco concertos em Tóquio, de 28 de março a 2 de abril, encerrando as apresentações daquele ano. Nessa época, editam o debut em coletânea, Double Platinum, obviamente comemorando a platina dupla conseguida com os oito álbuns anteriores.

Apesar de todo o sucesso, o clima entre o quarteto não era dos melhores. Devido a desavenças, surge a decisão inusitada de lançar quatro trabalhos solos, ou seja, cada membro gravaria suas músicas, da forma e com quem quisessem e com o respaldo do nome Kiss grafado na capa. Esse projeto conheceu o mundo em outubro e entre os músicos convidados, Kulick tocou no de Stanley e Anton Fig (D) no de Frehley. Musicalmente, Ace se saiu melhor – dos quatro singles lançados, um de cada disco, “New York Groove”, do guitarrista obteve melhores resultados –, mas Simmons vendeu mais LPs. Por sinal, juntos eles venderam cinco milhões de cópias. Quase no fim do ano, a Casablanca editou The Best Of The Solo Albuns.

No mesmo ano, saiu a estréia cinematográfica Kiss Meets The Phantom Of The Park. Feito para a TV, o filme eleva os mascarados à condição de super-heróis para enfrentar um vilão cientista que justamente quer substitui-los por réplicas. Outro episódio além da música foi o lançamento da revista em quadrinhos da banda, onde a tinta vermelha usada foi misturada com o sangue dos quatro.

Como se os problemas internos não bastassem, a gravadora insiste numa atualização no som. No meio da onda Disco, sai Dynasty, no ano seguinte. “I Was Made For Loving You”, trilha da película Amor Sem Fim, é um claro exemplo dessa “influência”. O single é o primeiro a atingir o topo das paradas na Europa. No clipe, a guitarra de Frehley mais parece um globo de luz. Boatos dão conta de que Fig gravou algo.

FOTO: VA - Eric Singer

Resultado inédito: a turnê, iniciada em 15 de junho, em Lakeland, na Flórida, dá prejuízo. As apresentações continuam nos Estados Unidos até o fim do ano.

A música comercial ainda ditava a sonoridade do grupo. A próxima bolacha, Unmasked, de junho de 1980, também insinuava que algo iria mudar, afinal a capa mostrava uma história para desmascarar o Kiss, relacionada com o título do LP. Desta vez, Fig grava todas as partes de bateria, porque Peter já estava fora da banda, mas por questões de contrato, o Homem Gato aparece no encarte. Anos mais tarde, numa Kiss Convention, o baterista disse que o problema começou já em 1978 e o dinheiro que ganharam ajudou na falência da formação original.

Voltando ao disco, Kulick ajuda a compor “Naked City”. Para lembrar, “Shandi”. As vendas caem, entretanto continuam num patamar de respeito. Prova de fidelidade dos fãs.

Como Anton Fig era um músico de estúdio, o conjunto decide contratar um novo baterista. Paul Charles Caravelo (12/7/50) fica sabendo através de um amigo que o Kiss precisava de alguém para ocupar o banquinho no lugar de Criss. Teve pouco tempo para juntar todo o material que precisava. Por sorte conseguiu entregar no prazo e assim que entrou no estúdio, em junho de 1980, para o teste, pediu autógrafos. “Poderia não vê-los mais”, justificou. Nesta audição, sua tarefa foi executar “Black Diamond”, “Strutter”, “Detroit Rock City”, “Firehouse” e “Is That You”. Não demorou e seu telefone tocou confirmando sua contratação.

O próximo passo era escolher uma “nova cara” e um outro nome. Eric Carr teve sua primeira maquiagem, de Falcão, recusada. Optou então pela Raposa. “Sou muito esperto”, explicou na época.

A estréia do novo integrante nos palcos ocorre no Palladium, em Nova Iorque, em 25 de julho. Depois da Europa, era a vez do Novíssimo Mundo ver o Kiss ao vivo, com datas na Austrália e na Nova Zelândia fechando a “Unmasked Tour”. Por sinal, a Nova Zelândia, em 30 de dezembro, seria o palco do derradeiro show de Frehley com o Kiss.

Os tempos estavam difíceis e o jeito foi dar uma pequena pausa para compor um novo trabalho. As mudanças continuavam e agora seria na forma de um álbum conceitual, intitulado Music From The Elder, editado em novembro de 1981, versando sobre um menino escolhido para lutar contra as forças do mal. A recepção foi tão ruim que nem turnê para divulgá-lo foi agendada. Até hoje é o único título a não conseguir disco de ouro.

O debut de Eric Carr em estúdio contou com a colaboração de Loud Reed (ex-Velvet Underground) na composição de três faixas: “Dark Light”, “Mr. Blackwell” e a mais famosa “A World Without Heroes”, cujo clipe mostra Simmons, The Demon, derramando uma lágrima. O papo de que é um bom álbum, mas não um do Kiss é repetido até hoje pelos responsáveis pela obra.

Na esperança de manter o nome, digamos, num bom patamar, porém sem material novo suficiente para um full lenght, o jeito é apelar para mais uma coletânea. Killers, na praça em maio de 1982, trazia curiosidades. Começando pela capa, a alteração dos “SS” do logotipo para não parecer nazista – a compilação não foi lançada nos EUA. Os quatro temas inéditos não contaram com o instrumento de Frehley e sim o de Kulick. Assim ficava claro que Ace já não mais se entendia com Stanley e Simmons.

Dois meses mais tarde o grupo entra em estúdio para gravar o novo trabalho Creatures Of The Night. As partes que caberiam a Frehley foram divididas entre Bob e Vincent Cusano (6/8/52), mas a participação de nenhum dos dois está creditada. Com relação à composição das músicas, Cusano co-escreveu “Killer”, a clássica “I Still Love You” e a ultraclássica “I Love It Loud”.

Em Creatures..., no mercado a partir de 10 de outubro de 1982, a sonoridade trazia mais mudanças, sendo agora mais pesada. Apesar de não estar mais na banda, Ace Frehley ainda aparece na capa e no clipe de “I Love It Loud”. Por acaso alguém já percebeu que após o solo de Paul aparecem “do nada” dois cinegrafistas? Na contracapa, uma homenagem a Neil Bogart morto naquele ano. Problemas de imagem fizeram com que o relançamento desse disco, em 1985, tivesse uma foto diferente na capa com Bruce Kulick, que ainda não estava no conjunto. Outros clássicos: “War Machine” e a faixa-título. Embora as vendas sendo boas, bem melhores que as dos dois anteriores, deixou a desejar.

Como Ace não voltou atrás, a solução foi efetivar Cusano, agora Vinnie Vincent. Stanley sugeriu a máscara de Vincent, a esfinge, um pouco diferente do estilo das anteriores. A turnê iniciou-se em 10 de dezembro em Dakota do Norte e percorreu EUA e Canadá até abril do ano subseqüente. Em junho, o Brasil tinha a oportunidade de vê-los ao vivo numa passagem marcante, em três datas. No Maracanã, dia 18, no Rio de Janeiro, o maior público da vida do Kiss: quase 250 mil pessoas. O próximo espetáculo foi no Mineirão, em Belo Horizonte, dia 23, e, finalmente, dia 25, no Morumbi, em São Paulo, o último show de cara pintada. Naquele concerto, outro fato histórico: somente dessa vez a banda repetiu uma música num set, pois os mais de 80 mil fãs se esgoelaram para pedir novamente “I Love It Loud”. Continua.

 

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