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domingo, 10 de dezembro de 2023

ENTREVISTA: Baraldi, o cartunista roqueiro

FOTOS: VRA - Exxótica e Baraldi na Expomusic

Weiss

Mais uma do Projeto Revista Valhalla e dessa vez fechando a #21. Segue a entrevista com Marcio Baraldi e, enfim, ali vocês entender tudo. Escolhi uma Weiss para rever esse trabalho com vocês, pois uma breja de trigo refrescante como essa é ideal para um bate-papo!

Na Amazon você encontra livros do Baraldi, sim, senhor, claro! Clique aqui e veja uma das minhas indicações. Boa leitura, saúde!

Marcio Baraldi: Rock também é vocação!

Texto: Vagner Aguiar

Você conhece o Humor-Rock? Calma, calma. Não é nenhum novo estilo de Metal e sim a união entre histórias em quadrinhos, charges e “cartuns” com o Rock’N’Roll. Simples, não? O melhor exemplo disso, e talvez único, é Marcio Baraldi, cartunista que lançou recentemente o livro Roko-Loko e Adrina-Lina (Ed. Rock Brigade/Opera Graphica Ed., R$ 10), coletânea dos três primeiros anos de HQs e tiras que são publicadas mensalmente em uma revista roqueira nacional desde 1996 – para comprá-lo mande uma mensagem para o endereço eletrônico que está no final da página.

Não tem no mundo inteiro um personagem como ele”, explica a afirmação anterior o criador de Roko-Loco, nome central do título acima citado, num bate-papo extremamente bem humorado, como não poderia deixar de ser, cheio de risos e gargalhadas. “Pode procurar na Kerrang, Burn!, Metal Hammer, Rolling Stone”, continua ele usando como exemplo revistas européias e norte-americana, a última, para classificar seus traços já que nelas “você não vai achar nem sombra de um trabalho como o meu. Isso é para provar que o Brasil não deve nada a ninguém. Nós temos artistas, músicos, atletas, cientistas de primeiro mundo. Ainda vamos ser o melhor país desse planeta, a pátria do Evangelho, da mulher bonita e do Rock'N'Roll”, profetiza.

Lendo a finalização dessa primeira idéia e observando que Roko-Loko usa uma camisa amarela e uma calça azul, as cores da seleção brasileira de futebol, podemos concluir que Baraldi é uma pessoa que adora nosso país. “Parabéns! Você foi o primeiro jornalista que percebeu isso! Eu sou nacionalista ‘pra carvalho’, adoro o Brasil e o Roko é isso mesmo, é o roqueiro brasileiro com todo orgulho.” A expressão “carvalho” é um trocadilho usado pelo personagem com aquilo mesmo que você está pensando.

Mas, antes de nos aprofundarmos no mundo do Humor-Rock vamos descobrir as origens de seu criador. Baraldi: “Desde que descobri o Rock’N’Roll, aos 11 anos, fiquei 'eletrizado' e passei a desenhar as bandas que eu gostava. Não consegui mais desligar a tomada nem parar de desenhar”. Cinco anos mais tarde e com cadernos cheio de piadas roqueiras o artista começou “profissionalmente na imprensa sindical fazendo de tudo, quadrinhos, charges, ‘cartuns’, e mais o que você imaginar.

A inspiração veio ao ouvir “We Will Rock You”, do Queen, “num radião véio” de sua casa. “Quando eu ouvi aquela batida e aquele coro que parecia uma procissão religiosa eu pirei”, entrega Baraldi, “converti-me àquela ‘religião’ na hora e sai correndo comprar o compacto de vinil We Will Rock You/We Are The Champions. Foi meu primeiro disco de Rock e, sem dúvida, ajudou a formar minha personalidade e achar meu caminho na vida.” O veredicto final: “Ouvir Rock para mim valeu mais que fazer 10 testes de orientação vocacional!” Baraldi ouve “Rock e Pop em geral, desde que seja banda boa”, além de Queen, Kiss, Motörhead, New Model Army, The Clash, Ramones e Punk antigo em geral. Sua estréia nas livrarias se deu em 1996 com ConstruRINDO o Sindicato.

Quem disse que eu nunca fui cabeludo?

Voltando ao último lançamento, a recepção a ele tem sido “Excelente! Todo mundo está curtindo, me mandam e-mail de monte”, comemora o cartunista não se agüentando, já que recebeu até uma mensagem do Japão pedindo-o. “Modéstia a parte, os personagens são muito legais e o livrão ficou lindo! Como diria o Roko, ficou ‘du carvalho’”, se esbalda ele. Contracenam com Roko, a namorada Adrina-Lina e estrelas das mais diversas constelações, não apenas do Rock, como Ted Nojento, Padre Judas, Bruna Lombada e Edir Macete, em historinhas bastante engraçadas e homenagens às personalidades que nos deixaram como Chuck Schuldiner e Joey Ramone, por exemplo.

Há, inclusive, uma espécie de guru de seu personagem principal. Baraldi se explica: “Na quinta HQ que eu fiz do Roko, ainda em 1996, aparecia o espírito do Raul [Seixas] que o levava para o céu para curtir um show só com roqueiros falecidos. Essa HQ fez tanto sucesso que eu resolvi fazer outras com o espírito do Raul, transformando ele no ‘brother espiritual’ do Roko, que aparece de vez em quando. É uma homenagem pessoal minha ao Raulzito, pois sou espírita e fã do maluco beleza.

Em charges, sempre há um que é “pego para Cristo”. Pesquisando quem poderia ser encontramos na figura de André Matos (ex-Viper, Angra, atual Shaman) “um eterno zoado”, como ele mesmo se intitula no depoimento para o livro. “O texto do André ficou um sarro! Esse lance da Adrina ser apaixonada por ele surgiu de brincadeira porque ele sempre se vestiu como um ‘galã do metal’ e acabou pegando. Mas o meu alvo mesmo pra zoar nas HQs é o próprio Roko, é ele quem sempre se ferra na minha mão”, confessa Baraldi em meio a risos, claro.

Porém, Baraldi não se restringe somente a esse personagem já famoso assinando charges em vários sindicatos e “em um monte de revistas para todos os públicos que você imaginar, inclusive muitas de Rock”, perfazendo “uns quarenta empregos para sobreviver”, se diverte. “Mas eu não conseguiria viver só desenhando Rock, sobretudo porque eu quero falar de outros assuntos também, para não virar um ‘bitolado’”.

E “bitolado” o cartunista realmente não é, basta observar os demais trabalhos que assinou ao longo dos anos: o já citado ConstruRINDO..., A Fórmula do Riso, Cidadania: Eu Quero uma pra Viver!, e, no ano passado, dois “petardos de uma vez: Todas as Cores do Humor, que foi o primeiro livro de ‘cartuns’ GLS politicamente corretos do Brasil”; e “Moro Num País Tropicaos, coletânea de charges sobre a ‘Era FHC’”, esclarece o autor. Com relação ao primeiro, “pintou a oportunidade de fazê-lo e eu, que graças a Deus não sou preconceituoso nem falso-moralista, topei”. Já o segundo “é bem político e tinha prefácios do Ziraldo e do presidente Lula. A recepção de ambos foi tão boa que o Tropicaos... esgotou em um ano e o Todas As Cores... já vendeu metade da tiragem”.

Então se a política também é assunto, quando o citado Luis Inácio da Silva será “zoado”? Enfático: “Nunca”. Será que é por conta do prefácio? “Brincadeira”, responde imediatamente. “Conheço o Lula desde que eu era moleque, adoro o sujeito! Estou torcendo muito para o governo dele e fazendo minha parte para melhorar o Brasil”. Entretanto, nem isso salva a autoridade máxima da Nação, afinal já saíram “umas charges com ele, sim. Dei umas cutucadas. Mas foi de leve”.


Como o papo seguiu outras proporções e a sua revista favorita está sempre antenada com o que acontece ao nosso redor, será que o roqueiro/cartunista sofreu preconceito algum dia? “Primeiro lugar, parabéns para a Valhalla! Acho excelente quando revistas de Rock abordam assuntos de conteúdo político e social”, nos joga confetes Baraldi, se referindo às reportagens sobre o assunto publicadas nas edições 17, 18 e 19. “Roqueiro não é alienado”, continua o autor, “é um público com senso crítico que não vai atrás de modismos vulgares e passageiros. Ninguém nunca me encheu o saco por ser roqueiro, pelo contrário, eu sempre fui o tipo boa-praça que se dá bem com todo mundo. Além disso, eu tenho 1,85 de altura, o que ajuda”, termina.

Para os “risos finais”, como diz nosso entrevistado, os próximos projetos: “Agora estou divulgando o livro do Roko, indo em TV, rádio, essas coisas. Ano que vem vou lançar o segundo volume, assim que esgotar esse primeiro, por isso, leitores, comprem meu livro!” Ah, sim, Baraldi também envia um recadinho para nosso editor: “Estou pensando em desenhar para a Valhalla também, manda o Eliton preparar um contrato milionário aí para eu assinar!

 Bibliografia: ConstruRINDO o Sindicato (96), A Fórmula do Riso (98), Cidadania: Eu Quero uma pra Viver! (01), Todas as Cores do Humor (02), Moro Num País Tropicaos (02), Roko-Loko e Adrina-Lina (03)

 

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