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domingo, 12 de abril de 2020

Fabiano Negri: despedida no melhor estilo


Stout



Como escrevi este texto no domingo de Páscoa, depois de comer chocolates acompanhado de uma Stout, resolvi continuar com esse estilo de cerveja para ouvir e, enfim, resenhar The fool’s path, o último trabalho do artista solo campineiro de hard rock Fabiano Negri, lançado recentemente. E uma breja de alta fermentação, malte torrado e na casa do 7,5% de teor alcoólico acabou casando diretamente com a proposta do álbum. Refletir sobre nossa trajetória. Ou no caso, a dele.

O professor, músico, compositor, produtor e multi-instrumentista anunciou em suas redes sociais que este seria seu último disco. Depois de 25 anos de carreira e trinta CDs editados entre carreira solo e as bandas Rei Lagarto, Dusty Old Fingers e Unsuspected Soul Band, The fool’s path se mostra uma reflexão de tudo isso. Um trabalho conceitual que já de cara se mostra um dos melhores, se não o melhor, de sua extensa discografia.

A capa, assinada por Emerson Penerari, mostra uma pessoa, talvez, presa no topo de um penhasco, o que já nos leva a imaginar sobre o conteúdo da obra, o "caminho do tolo", em uma tradução livre. No release, Negri explica esse conceito: "O ‘tolo’ tem dois significados. Fala do tolo que insistiu 25 anos numa missão praticamente impossível e o tolo da carta do tarô, que indica uma guinada na vida, abandonando um caminho para recomeçar de forma diferente, mas sem saber se é certo ou errado”.

Dizer que quem faz arte independente no Brasil não é valorizado é chover no molhado, infelizmente. Assunto abordado diversas vezes no SP&BC, inclusive. Basta procurar pelas inúmeras entrevistas no blog. Fato é que, talvez por tudo isso, Negri achou melhor pendurar o microfone  e se dedicar a outros projetos. Quem perde é somente a cena nacional!

Falando da obra em si, são 10 músicas estupendas! Não, não estou puxando o saco do meu conterrâneo. Quem me conhece sabe que jamais faria isso. De todos os discos que resenhei para a revista Valhalla, por exemplo, concedi apenas um 10. Caso ainda estivesse lá, este seria o segundo da minha carreira.

Não vou destacar faixas, pois cada uma se encaixa perfeitamente dentro da proposta e conta uma parte importante da história. Claro que temos os riffs grudentos, refrãos de fácil assimilação em que basta uma ouvida para sairmos cantando a plenos pulmões, tudo muito bem produzido e gravado, como sempre aliás. Além de em alguns momentos lembrarmos do saudoso Rei Largato.

Uma curiosidade. Outro dia compartilhei em uma rede social uma faixa com a letra traduzida de  um dos singles, a balada Changing times, para anunciar que The fool's... figuraria por aqui. Curiosamente, minha sogra, que não gosta de rock - da minha família só eu mesmo (risos) - comentou que gostou da música e, principalmente, da letra, por ser bem verdadeira.

The crew

The fool's path foi gravado no Estúdio Minster, de propriedade do meu amigo de longa data Ricardo Palma, que tocou baixo, mixou e masterizou, enquanto que Cesar Pinheiro se encarregou da bateria. O que sobrou, que não foi pouco, ficou por conta de Fabiano Negri: composição, produção, guitarra, teclado e voz.

O álbum não estará em nenhuma prateleira de loja, até porque atualmente isso é bem raro, e, infelizmente, apenas alguns temas serão disponibilizados nas plataformas digitais. Portanto, o acesso ao CD será apenas através das redes sociais de Negri. E se apresse, pois o prazo para pedidos estava se esgotando.

Pois é, meu velho, se despedir assim, com um disco tão bom é covardia. Por outro lado, a parada é por cima, da melhor maneira que um artista pode despedir-se de seus fãs.

Serviço

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