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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Uganga promete não seguir fórmulas


Alice Cooper fez uma doação de US$ 10 mil à fundação que patrocinou o CD

Mineiros estão em estúdio desde outubro e contam com apoio alemão



Antes de qualquer coisa, gostaria de destacar como fiquei feliz em entrevistar um ex-integrante do Sarcófago, banda mineira que não só marcou época em meados dos anos 1.980 e a primeira metade da década seguinte, como foi uma das precursoras da música extrema mundial, no death/black metal.

Manu "Joker" Henriques, o músico em questão, tocou bateria no Sarcófago entre 1.989 e 1.991. Hoje, além de liderar o Uganga, é vocalista do grupo de Uberlândia (MG), a 540 quilômetros de Belo Horizonte. Ele e Marco Henriques (bateria) interromperam as gravações de Servus para baterem um papo exclusivo por e-mail com o SP&BC

Na conversa, entre outros assuntos, tudo sobre o andamento desse novo álbum, patrocinado pelo programa de incentivo à cultura Wacken Foundation, uma organização alemã sem fins lucrativos criada em 2.008 para apoiar projetos de hard rock e heavy metal do mundo todo.

O Unganga é o segundo brasileiro a conseguir esse apoio, o primeiro foi o grupo paulista de death metal itSELF, com o patrocínio em equipamentos. Acompanhe, a seguir, a entrevista em um formato um pouco diferente do que costumamos publicar. Lembrando que esta é a última postagem de 2.017. Boas festas com muito rock e cerveja, porém sempre com juízo. Estaremos juntos novamente em 2.018!

Pode contar sobre o programa de incentivo do Wacken Foundation e como vocês conseguiram essa ajuda para a gravação do novo álbum?
Manu “Joker” Henriques: O mérito dessa conquista é do nosso empresário Eliton Tomasi. Ele trouxe essa possibilidade, no caso inscrever um projeto nosso na Wacken Foundation, e é claro nós abraçamos a ideia. Com certeza a ajuda financeira para gravar o álbum novo foi muito bem vinda, mas o que mais nos deixou felizes foi o reconhecimento vindo de uma galera tão séria como o pessoal do Wacken, um mega festival com uma oferta tremenda de artistas a sua volta. Até a Doro [Pesch] faz parte da curadoria, que foda!
Marco Henriques: E foi muito massa ver que eles têm essa preocupação em valorizar artistas independentes de todo o mundo. Se não me engano somos a segunda banda brasileira a conseguir esse projeto. Para nós é uma honra ter a logo do Wacken no CD como um parceiro.

Por sinal esse não é o primeiro incentivo que o Uganga consegue. Como foi o anterior?
Manu: Nós já aprovamos projetos municipais e estaduais. Tanto para gravação de álbum quanto para circulação em tour e sempre aproveitamos essas oportunidades. O que nós fazemos? Simplesmente ficamos de olho nos editais e buscamos fazer tudo correto! Temos 20 anos de estrada bem documentados e acho que isso também ajuda. O caso é o seguinte, não somos ricos nem vivemos de música, trabalhamos sério há duas décadas e fazemos música por amor. Tendo essas possibilidades é só mais uma maneira de sobreviver num caminho cheio de buracos como esse. Nunca dependemos dessas leis pra fazer nosso "corre", nem iremos, mas também não deixamos passar uma chance onde podemos conseguir suporte por mérito. Melhor a gente aprovando esses projetos, que rala no underground há uma cara, do que a porra da Cláudia Leite (risos).

Vocês iniciaram as gravações do novo disco em 26 de outubro de 2.017. A quantas anda esse processo e qual o planejamento?
Manu: Nós estamos trabalhando nesse álbum há dois anos e finalmente começamos as gravações, novamente no [estúdio] Rocklab em Goiânia [GO]. Nessa primeira sessão, que foi dos dias 26 a 30 de outubro, registramos o instrumental de seis músicas. No momento estamos aqui em Araguari (MG) [N. do R.: a 564 quilômetros de BH] finalizando outras sete faixas para em breve voltar à Goiânia. Creio que lá por janeiro estaremos finalizando as vozes e outros detalhes como participações, etc.
Marco: Nessa primeira etapa gravamos bateria, baixo e guitarras desses seis sons. Na próxima ida faremos o mesmo nas outras sete e depois finalizamos com vocais e extras, além da gravação de algumas participações que irão rolar. Ainda temos um bom trabalho pela frente.

Aproveitando o gancho, como é o processo de composição do Uganga? Todas as músicas já estão compostas, por exemplo?
Manu: Já temos 80% fechado. Todos no Uganga estão sempre tendo ideias que eu vou registrando em arquivos de vídeo ou áudio. Temos estilos diferentes, inclusive de trabalhar, e acho que aprendi a organizar isso de alguma maneira (risos). Desde o Vol. 03: Caos carma conceito (2.009) venho fazendo a parte de produção musical junto à banda e os resultados têm sito satisfatórios, por isso seguimos assim. Quando começamos a pensar em um novo álbum esse processo de registrar ideias vai ficando mais intenso e nessa hora começamos a trabalhar realmente nas faixas. Muitas vezes o start se dá comigo e o Christian (Guitarrista), com um violão, uma caneta, uma folha em branco e um “esboço de música” que montamos a partir do nosso arquivo ou de ideias que temos na hora. Posteriormente apresentamos essas ideias para o resto da banda e ai todos vão colocando sua assinatura até que a faixa é realmente finalizada. Mas isso não é uma regra e no álbum novo temos, por exemplo, uma música que nasceu de uma jam do Marco com o Thiago [Soraggi, guitarra], assim como foi Asas Negras no Vol. 03.... Todos têm seu papel nesse processo, temos um baixista [Raphael 'Ras' Franco] que além de compor é um cara com uma visão foda pra arranjos, e agora o [Maurício] 'Murcego' [Pergentino, guitarra], que trouxe um toque mais clássico pros solos e vários riffs pro novo álbum. Estamos com um time forte e prestes a lançar nosso trabalho mais importante até aqui, pode apostar.
Sobre o incentivo: Melhor nós que a Cláudia Leite

E qual será o estilo desse quinto álbum? Vai seguir a mesma tendência dos anteriores ou teremos outros  direcionamentos?
Manu: Será estilo Uganga. Nós nunca nos prendemos a uma fórmula e sempre deixamos fluir as ideias sem nenhum tipo de amarra. Por outro lado acho que aprendemos com o tempo a criar nossa assinatura musical, nossa identidade. De uma maneira geral somos uma banda de crossover, misturamos metal e hardcore/punk mas fazemos isso a nossa maneira e com outros ingredientes que vez ou outra aparecem no nosso som. Pode ser uma parte rapeada, um riff rock’n’roll ou algo mais acústico e calmo, não importa. Essas coisas seguirão sendo trabalhadas no Uganga e acredito que o Servus terá tanto elementos tradicionais do nosso som como algumas novidades. Acho que uma banda é muito mais interessante quando não se acomoda ou impõe algum tipo de limitação, e procuramos ser esse tipo de banda.

Quais as atuais influências do grupo?
Marco: Todos escutam muitas coisas diferentes. Uma vez o Ras fez uma definição que achei bem nossa cara, “de black Music à black metal”. Eu particularmente escuto muito hardcore/punk (Pennywise, Rancid, NOFX), Rap também (Jurassic 5, Beastie Boys, Sabotage), bandas mais novas como Mastodon, Gojira, Dillinger Escape Plan, Skindred... Enfim, muita coisa. E na hora do compor focamos no que é a base da banda, a mistura de thrash com punk/HC, mas sempre rola uma influência desses estilos diferentes. 
Manu: Como disse, temos gostos musicais bastante variados mas algumas bandas como Black Sabbath, Motorhead, Beatles, Exodus e Faith No More tem uma importância muito grande no nosso DNA. Essas são influências não atuais, mas eternas, assim como várias outras bandas que poderia citar aqui por horas. É claro que sempre estamos ouvindo algo novo ou antigo que nos influencia em determinado momento da nossa vida e nessa fase do Servus com certeza não é diferente. Particularmente tenho ouvido bastante pós-punk anos 1.980 e black metal.

As letras continuam em português ou o título mostra que a língua adotada daqui por diante será o inglês?
Manu: Continuo escrevendo em português, acho que no caso do Uganga esse sempre será o caminho, mas para esse álbum estamos estudando a possibilidade de alguma coisa em inglês ou espanhol também. Já faz tempo que temos essa vontade e acho que agora vai rolar, porém algo pontual. Via de regra o Uganga canta em português e seguirá assim.

Vocês acabaram de lançar um DVD. Como foi a recepção a ele? E como foram recebidos os CDs anteriores pelos fãs?
Marco: O DVD saiu na versão online e agora está saindo na versão física também. A recepção foi excelente. Tanto o show quanto o documentário foi muito elogiado, por ter ficado algo dinâmico, divertido. Mérito do Manu e do nosso parceiro Eddie Shumway (Lava Divers) que ficaram à frente desse material. E em relação aos álbuns também sempre foi muito legal. A medida que o tempo passou nossa base de fãs/parceiros só cresceu, a variedade de pessoas que vem trocar ideia e falar do banda também só aumenta. Desde o cara que não é fã de metal, ao cara que só ouve som extremo e ambos curtem a banda. E isso é muito foda.

O nome mais conhecido da banda talvez seja o do Manu. As pessoas que ainda não conhecem ao ouvirem pela primeira vez esperam algo na linha do Sarcófago? Se acontece, chega a atrapalhar, ou somente traz benefícios?
Marco: Não tem como não haver essa relação. O Sarcófago é um nome que marcou história no metal mundial, influenciou várias bandas, e ainda hoje tem um público muito forte. Então nada mais normal que sempre haver a relação entre as duas bandas. Mas não acho que chegam a esperar algo parecido no som do Uganga.
Manu: Acho que hoje em dia o pessoal já sabe que são bandas com estilos diferentes mas com raízes em comum. O Uganga tem duas décadas de trajetória e uma história que fala por si, e o Sarcófago é uma das maiores bandas de metal extremo de todos os tempos, sou feliz por ter meu nome ligado a essas duas bandas e acho normal uma despertar curiosidade sobre a outra em determinadas pessoas. O Sarcófago já tem seu legado, o Uganga vem trabalhando no dele.

Continuam as três guitarras a lá Iron Maiden, Thin Lizzy, etc? Sei que foi explicado no DVD, mas pode explicar esse caso para os leitores do SP&BC?
Manu: Náo só! Bad Religion, Black Oak Arkansas e Foo Fighters só pra citar outras que tem três guitarristas (risos). Mas sim, seguimos como sexteto. Em 2014 o Christian [Franco] teve que passar por um tratamento pesado e ficou um ano sem condições de pegar estrada, tocar muito, etc. Nessa época o Murcego deu uma força na guitarra solo ficando perto de um ano com o Uganga na estrada. Quando o Christian ficou totalmente recuperado e voltou resolvemos experimentar com três guitarras, já que o Murcego estava bem entrosado e trazendo elementos interessantes para o nosso som. Fizemos vários shows com excelente retorno, inclusive abrindo para Exodus e Coroner e resolvemos nos tornar um sexteto. Foi uma casualidade que acabou nos trazendo até aqui e as pessoas poderão conferir essa nova fase em breve no Servus. Além de ser um excelente músico, o Murcego é nosso amigo das antigas e um cara muito fácil de lidar. Enquanto todos estiverem felizes, seguiremos assim.
Tocar na Europa para fãs usando nossa camisa é demais

No Spotify e no Deezer constam apenas o Opressor (2.014), um álbum excepcional, diga-se de passagem. Algum motivo especial por não conter os anteriores, principalmente o Vol. 3..., que também é ótimo?
Marco: Sim, muita correria e falta de tempo pra colocar os álbuns anteriores (risos). Já estávamos com o plano de colocar toda a discografia em nossa página, mas com a pré-produção, gravação, lançamento do DVD e shows nós acabamos enrolando e ainda não rolou. Mas em breve todos vão poder conferir nossa discografia completa no Spotify.

Por falar em streaming, muitas bandas preferem somente o lançamento virtual em virtude de custos. Em quais formatos virão o novo trabalho?
Manu:  Com certeza sairá também em formato físico, muito provavelmente vinil e CD, assim como o Opressor. Estará obviamente disponível na Internet, mas não abrimos mão de ter o produto com arte gráfica e tudo como deve ser. Antes disso precisamos fechar o álbum e negociá-lo, mas acredito que sairá novamente nos dois formatos.

A parte gráfica sempre foi um diferencial da banda, com belas capas. Já pensaram na arte nova?
Manu: A capa do Servus será feita pelo Wendell NerkEdmi de Recife (PE). Quando fui falar sobre a ideia dele [do disco] com o Marco, ele veio com essa dica e curti bastante o estilo do Wendell. Fizemos um contato e rolou. O cara é gente fina, roqueiro e está fazendo um puta trabalho. Claro que não vou dar nenhum detalhe ainda, mas na hora certa vamos divulgar (risos).
Marco: Eu fiquei por conta da capa de três álbuns da banda, Na Trilha do Homem de Bem (2.006), Vol. 3: Caos carma conceito (2.009) e Eurocaos – Ao Vivo (2.013), e fiz também o encarte do Opressor [N. do R.: completa a discografia Atitude lotus, de 2.003] Mas assim como no último trabalho, escolhemos ter algum ilustrador foda para fazer a capa. Tem muita gente boa por aí, e o Wendell é um cara que eu já acompanho tem um tempo, curto demais o que ele faz, uma mistura de arte punk/skate, mas com muitas cores, detalhes... E ele captou bem a ideia que o Manu passou sobre o conceito do nome. Acho que tem tudo para ser a capa mais foda da banda.

Sarcófago criou um novo estilo de metal. Chegam até vocês as bandas que o Uganga influencia? Como é isso?
Manu: Cara, já conversei com um número razoável de bandas que se dizem influenciadas pelo nosso som, mesmo que algumas com o tempo procurem negar isso (risos). Claro que nem se compara com a extensão da influência do Sarcófago na cena, pois trata-se de outra banda e outros tempos, mas já rolou esse reconhecimento sim e acho legal.

O que podem falar sobre shows no exterior? Como foi a turnê europeia de 2.013? Ocorreu alguma turnê anterior?
Marco: Sim, fizemos nossa primeira tour na Europa em 2.010, fazendo cerca de 20 shows em 27 dias. E em 2.013 fizemos a segunda, ao lado dos irmãos da banda Terrordome (Polônia) que estavam com a gente em todos os shows e foi extremamente importante para o sucesso do "rolê". Em ambas a receptividade foi foda, mesmo em países em que as pessoas não faziam a menor ideia do que estávamos falando (risos). E voltar em 2.013 e ver pessoas nos shows vestindo a camiseta da banda que compraram na turnê de 2.010 foi demais.
Manu:  A gente vem humildemente construindo uma história por lá, diferente da que temos aqui, mas também muito importante. Com certeza voltaremos na hora certa.

Conseguem viver somente de música?
Manu: Esse é um sonho que ainda não conseguimos realizar. Todos temos nossos trabalhos para sobreviver, mas conseguimos conciliar com o Uganga sem maiores problemas. Não estamos para brincadeira, levamos a banda muito a sério, mas temos que pagar as contas e só com nossa música isso ainda não é possível. Por sorte temos trabalhos paralelos onde fazemos outras coisas que gostamos, e no final o importante é estar bem. Além de vocalista de uma banda, sou arquiteto e homem do campo (risos).
Marco: Isso pra mim já foi um sonho. Mas atualmente a música para mim é mais um prazer, uma válvula de escape. Como o Manu falou, trabalhamos de forma muito séria. A banda tem suas despesas, reuniões, levamos todo o processo muito a sério, mas particularmente meu objetivo é continuar viajando, conhecendo pessoas e lugares e tocando minha bateria. No começo da semana volto a minha rotina, que também é muito tranquila. Tenho uma marca de roupas (Incêndio Shop) e um bar em Araguari (Vitrola Ambiente Cultural) onde vejo várias bandas de amigos tocando. Faço o que gosto, e vivo disso. E a música é uma dessas coisas. Não me dá grana, mas me dá outras coisas que são tão importantes quanto. Ou até mais importantes.

Manu fala bastante da cena mineira. Pode indicar algumas bandas para o pessoal?
Manu:  Cara, por aqui no Triângulo [Mineiro] sempre tem bandas legais rolando, vale a pena prestar atenção no rock feito por esses lados. Da cena local tenho ouvido muito Seu Juvenal, Chafun Di Formio, Tríade e Lava Divers.

Vamos unir duas paixões dos roqueiros: música e cerveja. Eu imagino que a resposta seja sim, afinal, até aparece uma no DVD, enfim, você gosta de cerveja artesanal? Qual seu estilo preferido?
Manu: Eu adoro cerveja, cara! Bebo vários estilos de cerva assim como curto vários estilos de música, mas prefiro as mais fortes e encorpadas.

Já imaginou um rótulo de cerveja do Uganga, como há do Sepultura, do Matanza, etc? Qual estilo seria?
Marco: Já sim, é uma ideia que com certeza ainda vai rolar. Chegamos a fazer contato com alguns parceiros, tivemos algumas propostas, mas ainda não rolou. Mas é bem provável que em breve tenhamos uma cerva da banda. Sobre o estilo, nunca pensei nisso. Talvez uma IPA com algum ingrediente do cerrado? Ou uma Weiss, que sempre são bem-vindas? Não sei. Boa pergunta.


Para finalizar, algum recado para os fãs?
Manu: Sim, se quiserem saber mais sobre o Uganga, datas, merchandise ou entrar em contato com a gente, acessem o site ou a fan page.

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