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quarta-feira, 26 de julho de 2017

Cerveja roqueira, uma nova maneira de beber curtindo música



AB: "Não bebam cervejas pseudo artesanais" (FOTOS: Divulgação)

Mercado artesanal sofre injusta concorrência devido à tributação, segundo Bazzo


A proposta do blog é unir rock e cerveja, ou seja, curtir um bom som apreciando uma boa breja. Então nada mais natural que este mergulhe na cultura cervejeira para que a união desses mundos fique cada vez mais facilitada para o amigo que acompanha o SP&BC. Não por acaso, já existem várias brejas com rótulos de bandas roqueiras. E isso acontece desde 2.010, aproximadamente.

Dessa maneira, nada melhor que um sommelier para falar sobre o assunto. O mestre em estilos de cerveja Alexandre Bazzo, também proprietário da cervejaria artesanal Bamberg, situada em Votorantim, a cerca de 100 km de São Paulo, nos conta um pouco de uma maneira geral sobre a bebida mais amada do mundo e, claro, aquelas em que as bandas de rock estampam os rótulos.

A empresa iniciou as atividades no final de 2.005 e foi batizada com o nome da cidade alemã que forneceu o primeiro malte para o início dos trabalhos. Além dos rótulos roqueiros, a Bamberg produz outros sete tipos da bebida.

SOM PESADO & BOA CERVEJA - Certa vez em um anúncio de emprego da Bamberg, chamou a atenção uma das exigências ser que a pessoa gostasse de rock. Até que ponto esse estilo de música é fundamental em sua empresa?

Alexandre Bazzo - (risos) Era uma brincadeira no anúncio da vaga, mas garanto que quem escutava outros estilos musicais, depois que começou a trabalhar aqui, passou a curtir rock. O rock sempre vence no final (mais risos).


SP&BC - Quando começou esse lance comercial de colocar banda no rótulo de cerveja? Qual sua inspiração? Sabe qual foi a primeira banda no mundo a fazer isso?

Bazzo - Foi natural. A Bamberg sempre seguiu a ideologia punk, do faça você mesmo, de contestar a mesmice, de fazer o diferente. Em paralelo a isso, já conhecia o Sady, batera do Nenhum de Nós e grande estudioso de cerveja [N. do R. Sady Homrick é também colunista de revista sobre o assunto], e em uma conversa surgiu a ideia de homenagear a música Camila, Camila. Começamos a desenvolver o projeto, mas quando estava quase pronta a cerveja, o Paulo Xisto veio aqui na cervejaria e queria retomar a do Sepultura, que eles tinham feito anteriormente em outra cervejaria e esta havia fechado. O Paulo mesmo escolheu o estilo, Weizenbier. Daí lançamos meio que juntas a Bamberg Camila Camila e a Sepultura Weizen.

Através do Sepultura os caras do Raimundos chegaram até nós. Mais tarde o Sady me apresentou ao [baterista] João Barone [do Paralamas do Sucesso] e fizemos a cerveja deles. 
Depois conheci o Badauí num show em que realizaram aqui em Votorantim e também fizemos a cerveja CPM 22.
Para fazer a cerveja converso bastante com a banda, o que eles imaginam, o que eles querem passar para o público com o produto, daí tento encaixar essa história em algum estilo de cerveja, mas todas bandas estão totalmente envolvidas com o processo de escolha do estilo, rótulo, divulgação, etc.
Provavelmente a primeira banda no mundo a fazer cerveja foi o Sepultura, mais uma vez eles foram pioneiros.

SP&BC - Vocês produzem brejas com rótulos para as bandas Paralamas do Sucesso, Nenhum de Nós, Raimundos, CPM 22 e Sepultura, sendo este em dois tipos. Há intenção de convidar outras bandas?
Bazzo - Como contei um pouco acima, a cervejaria já usava uma linguagem rock'n'roll e eles que chegavam até nós pra propor essa parceria. Como sou fã do trabalho de todos não tinha dúvida, topava na hora.
Estamos sempre abertos para outras bandas, só fazemos cervejas de bandas que acredito no trabalho, na mensagem que eles passam e que toquem rock'n'roll. Hoje temos uma dificuldade maior, pois nossa produção está no limite, então tive que recusar excelentes bandas por conta disso.

SP&BC - Dessas, qual é a campeã de vendas?
Bazzo - Todas vendem quase que quantidades iguais, não existe uma campeã.

SP&BC Como funciona, em termos de negócios, essa parceria. As bandas recebem alguma porcentagem sobre vendas?
Bazzo - Algumas optam por receber uma porcentagem, outras não. Na verdade, claro que é um negócio tanto pra nós quanto pra eles, porém nós, a cervejaria e as bandas, entendemos que é mais uma forma de divulgar ambas as marcas do que retorno financeiro, se eu depender da banda pra fazer dinheiro, ou se a banda depender da cerveja pra fazer dinheiro algo está errado. Eu tenho que fazer grana vendendo cerveja e eles músicas. A cerveja pra eles é uma diversão e a música pra mim é uma diversão.

SP&BC - Sobre os tipos, como são feitas as escolhas para os rótulos roqueiros?
Bazzo - A principal coisa é: eles tem que gostar da cerveja deles. Daí antes da elaboração da receita conversamos sobre estilos, algumas vezes degustamos algo para entender melhor. Sempre tem um na banda que já é mais avançado sobre cerveja, então tento encaixar a bebida com a história que queremos contar.

SP&BC - As brejas de grupos não são tipos exclusivos, certo? Por exemplo, um dos tipos do Sepultura é a Weiss, mas a Bamberg tem outro rótulo desse tipo. O líquido é o mesmo ou apresenta diferença?
Bazzo - Algumas vezes é a mesma cerveja nossa com o rótulo da banda, mas a maioria das vezes são receitas exclusivas para o grupo.

SP&BC - Quem não gosta de rock também compra as brejas de bandas? E ao contrário, pessoas adeptas à cultura cervejeira adquirem essas garrafas?
Bazzo - Essa é a brincadeira. Fazer com que uma pessoa que nunca escutou o som pesado do Sepultura, chegue até o quarteto através da cerveja e quem sabe, chega ao som depois. Ou um cara que não bebe cerveja, mas é fã da banda e começa a beber cerveja boa, por causa do grupo. É claro que tem casos de restaurantes ou pessoas que dizem não comprar essa porque não quer vincular com a banda, mas é raro isso.

SP&BC - Roqueiros estão mudando seu hábito e partindo para as artesanais? Caso positivo, isso se deve, principalmente, devido a ver suas bandas favoritas nos rótulos?
Bazzo - Não tenho dúvida: a cerveja artesanal é a cerveja do rock'n'roll! Nosso público é totalmente rock'n'roll, acredito que não seja apenas por causa das bandas, mas no caso da Bamberg, temos a essência punk/rock'n'roll, é natural isso. Não estamos no mainstream, não fazemos o que todo mundo faz, temos atitude, somos independente, acho que isso ajudou até as bandas se identificarem conosco.
AB: "Nosso público é rock'n'roll"

SP&BC - Conhece outro estilo de música que se aventura em estampar um rótulo que não seja rock?
Bazzo - Não conheço, mas deveria ter; se a cervejaria tem uma identidade sertaneja ou [de] samba, manda bala. Nada contra outros estilos de musicas, desde que seja verdadeiro o projeto.

SP&BC - Sobre o evento Bebo Socialmente. Como surgiu a ideia e como funciona? A intenção é inteiramente institucional? E a escolha das bandas?
Bazzo - A ideia era trazer a comunidade local para beber, comer e se divertir com preços justos. Não concordo com a moda na cerveja artesanal de supervalorização, de preços absurdos, não praticamos isso. Daí o Bebo... acontece na rua, não paga para entrar, vendemos chopes com preços baratos e comidas de 5 a 25 reais. Não cobramos cover artístico e todos são bem vindos. Os espaços de comidas e bandas são sempre para empresas, famílias daqui da região [de Votorantim/SP].
Faz dois anos e meio do evento [sic] e ele ganhou uma proporção muito grande; estamos atraindo turistas, promovendo o comércio local, provendo cultura e entretenimento de alta qualidade.
As bandas sou eu quem escolho. O único critério que uso é eu gostar do som, priorizamos bandas autorais; e tem que ser rock'n'roll, quanto mais pesado melhor.

SP&BC - Vocês já ganharam diversos prêmios, inclusive com as cervejas roqueiras. Qual o mais significativo?
Bazzo - São mais de 160 prêmios internacionais, não tem como escolher um significativo, são vários muito importantes e nunca imaginaria que conseguiríamos chegar a ganhar esses prêmios.

SP&BC - Senti falta da Bamberg no Festival Brasileiro de Cerveja, em Blumenau (SC), deste ano. Por que não participaram?
Bazzo - Financeiramente para nós o FBC sai muito caro. Além disso, iríamos com uma equipe daqui da fábrica, o que também prejudica toda nossa rotina interna.

SP&BC - Ainda é muito difícil mostrar para o consumidor que beber menos, mas melhor é bom até para saúde ou o preço é uma barreira enorme?
Bazzo - O consumidor mudou muito de quando começamos. Vivemos um momento fantástico da cerveja artesanal no mundo, o problema maior hoje é o preço, principalmente o overprice [N. do R.: algo como majoração do preços com análise do poder aquisitivo], apenas como marketing.

SP&BC - Quais os desafios das artesanais perante as industriais, mesmo o mercado já mudando bastante?
Bazzo - O principal problema nosso é não ter igualdade de competição com as grandes cervejarias. Nós pagamos 70% de imposto, enquanto as grandes cervejarias pagam 20%. Não queremos privilégios, apenas igualdade de competição.
Outro ponto importante, algumas grandes cervejarias estão comprando as pequenas e tentando barrar o crescimento das artesanais, com isso eles usam táticas de mercado não éticas e tentam confundir a cabeça do consumidor. Por isso, não bebam cervejas pseudo artesanais que fazem parte de grandes corporações.

SP&BC - A compra da Brasil Kirin pela Heineken, que vai acabar entrando no mercado artesanal com a Eisenbahn e a Baden Baden, preocupa?
Bazzo - Não, eles já tinham força com a Schin, depois Kirin; a Heineken não tem histórico de comportamento ruim com seus concorrentes.

SP&BC - Tem algum recado sobre a cultura cervejeira que gostaria de deixar?
Bazzo - Beba cerveja de cervejaria independente, brasileira. Divirta-se bebendo cerveja.

SP&BC - Vou colocar 5 bandas e gostaria que você dissesse quais tipos de cerveja você imagina que combinaria para produzir...
Bazzo - Eu teria que entender o que as bandas esperam do estilo da cerveja deles, se eles querem que combine com a historia da banda, ou com uma música, ou se querem que agrade o máximo de gente possível, ou se querem fazer algo que eles gostem de beber, ou se não querem nada disso e querem que  eu escolha sozinho.

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