|
(FOTO: Divulgação) Lançar em todos os formatos é importante |
Disco novo já tem o título de Cursed
Surpresa geral no SP&BC. Sim, tenho certeza que causou certo espanto no momento em que você leu que a banda de death metal Heavenless, de Mossoró (RN), a 277 quilômetros de Natal, concedeu uma entrevista ao blog. Nada mais natural, afinal, meus estilos preferidos figuram entre o hard e o heavy, com pouca variação.
Porém, para o jornalista, manter a cabeça aberta é fundamental. Então, por que não dar chance a nomes de estilos mais agressivos, desde que façam um bom trabalho? E é justamente isso que encontramos no CD de estreia Whocantbenamed (Rising Rec., Nac.), ou seja, qualidade nas composições, na gravação, enfim, um álbum digno de nota.
Vamos, então, conferir o que o baterista Vicente Andrade tem a nos dizer sobre tudo o que aconteceu com o trio nesses quase três anos e o planejamento para o futuro.
A
banda é relativamente nova, formada em 2.015, e já chegou ao debut. Pode nos
apresentar o grupo, projetos anteriores e como se formou o Heavenless?
Vicente
Andrade - Um grande abraço aos amigos do Som Pesado & Boa
Cerveja. A banda Heavenless
surgiu em 2.015, mas já estamos nessa estrada musical há muito tempo. Já
trabalhamos com produção musical aqui em nossa cidade, já possuímos pubs e
estamos envolvidos com a cena há mais de 10 anos. A banda é formada por mim,
Kalyl Lamark, voz e baixo, e Vinícius Martins, guitarra. Eu tocava em uma banda chamada Bones in
Traction junto com o Vinícius e o Kalyl é ex-frontman do Monster Coyote. A cidade é
pequena [N. do R.: cerca de 240 mil habitantes], todos já éramos amigos e sempre rolou um lance de parceria estre as
bandas locais. Em 2.015 resolvemos entrar nessa empreitada juntos por realmente termos uma afinidade profissional
e de amizade mesmo. De certa forma tínhamos convicção de que essa formação seria
muito promissora porque todos estavam muito envolvidos com o projeto. Tivemos "pressa" pra lançar o CD porque
acreditamos que o cartão de visita de qualquer banda é uma música bem feita e
bem gravada, então antes de shows ou pegar a estrada, nos concentramos em
gravar o melhor possível nossas músicas e lançar um CD de qualidade.
Mossoró carrega alguns
dados interessantes, como ser a “Terra da Liberdade”, ser marcada pelo Motim
das Mulheres, o primeiro voto feminino do Brasil, ter libertado seus escravos
cinco anos antes da Lei Áurea, o bando de Lampião. Até que ponto isso tudo
influenciou a banda? Alguma outra característica que eu não citei?
Vicente - Pois é, Mossoró é uma cidade
pioneira, conhecida como a capital cultural do Estado, a terra do sal, sol e
petróleo. O maior produtor de sal do Brasil, maior produção de petróleo em
terra firme e sol o ano todo. Geograficamente, Mossoró está no meio do caminho
entre a cidade de Natal e Fortaleza (CE), estrategicamente é um ponto de parada para
todas as bandas que estão passando por aqui na região, por isso a cidade sempre
esteve no mapa de grandes shows. Esse contato com esse circuito autoral de
bandas independentes é uma fonte de inspiração.
E em termos musicais, quais são as
influências?
Vicente - Bom, na região o que domina é o forró e agora com a globalização
todas essas músicas de moda que se difundem Brasil afora, mas como o sertanejo
é muito forte, ainda resistimos e corremos na contramão difundindo nosso som
pesado. Existe uma diferença de idade entra os integrantes e isso influencia
muito na hora das composições. Eu curti muito metal na década de 1.990 e vi
grandes shows e lançamentos de discos daquela época. Então Pantera, Sepultura,
Kreator, Machine Head correm em minhas veias. Kalyl Lamarck tem influência de
metal mais arrastado, mais doom e sujo como Down, Howl, High on Fire... Já
Vinícius Martins é o mais jovem da banda e tem influência do new metal e metal
mais moderno como Slipknot, Korn e Mastodon.
Como tem sido a recepção a Whocantbenamed, após quase um ano de
lançamento?
Vicente - Recebemos muitas críticas e resenhas,
a grande maioria muito favorável. O público também elogiou bastante, fizemos um
trabalho bem feito de divulgação do CD físico e colocamos as músicas em todas
as plataformas de áudio de acesso grátis no intuito de atingir o máximo de
pessoas. O Eliton Tomasi, da Som do Darma, nos ajudou e orientou muito e
acreditamos que o 2.017 foi um ano muito proveitoso.
|
"Somo da época de sentar com o vinil no colo" |
O disco, então, foi lançado em
formato físico, pela Rising Records e em streaming. Qual deles obteve a melhor resposta?
Vicente - Acreditamos no CD físico ainda,
apesar de sair caro para a banda independente. Somos ainda da época de sentar
com vinil no colo, ouvir o som e ficar lendo o encarte. O perfil de público que
ainda acredita nisso é diferente em geral daquele pessoal mais novo que não
compra mais nem o CD, tudo é virtual. Já nasceram nessa época onde tudo é
virtual, então acreditamos que temos que alcançar todos. Até o Metallica se
rendeu as imposições e divulgam suas músicas nessas plataformas.
Planejam lançar no
exterior?
Vicente - Sim, principalmente na Europa. Como
em 2.019 pretendemos fazer a primeira tour pela Europa, estamos viabilizando o
lançamento lá.
Qual faixa anda fazendo
mais sucesso entre o público?
Vicente - É engraçado como escuto opiniões
diversas. Talvez isso se deva a mistura de gêneros nas músicas. Tem uma galera
que curte a música The Reclain, que tem uma pegada mais doom. Muita gente me
fala que Enter Hades é a melhor, essa é um metal mais extremo com blast, uma
canseira... Já outros falam em Hopeless, que tem uma pegada mais moderna. Acho
isso bom!
Depois de quase um ano
de editarem Whocantbenamed, se acontecesse hoje, fariam algo diferente?
Vicente - O álbum cumpriu seu papel com
excelência e refletiu bem o momento da banda. Claro que em termos de composição
sempre tem alguns pontos que podemos melhorar, mas nada que faria diferença. A
formação é muito sólida, somos bons amigos e nos entendemos bem musicalmente,
encontramos parceiros fortes como nosso produtor Cássio Zambott, Luciano Elias
da Rising Records e o Eliton do Som do Darma.
Ano passado foi muito
bom em termos de shows, correto? Quantos fizeram? Como está a agenda para
2.018?
Vicente – O ano 2.017 foi um ano de muita
correria, fizemos vários shows pelo Nordeste e duas turnês pelo Sudeste e
também participamos de alguns festivais. Ficamos muito satisfeitos. [Para] o ano 2.018 estamos focados em gravar nosso próximo disco chamado Cursed e
tocar em festivais e aproveitar a repercussão que o Whocantbenamed causou.
E de um modo geral, como
estão os planos atualmente: divulgar ainda mais essa estreia ou já pensam em um
trabalho novo?
Vicente - Pretendemos sempre ficar lançando
novidades, não podemos parar. Esse primeiro semestre serão lançados três clipes já
com músicas novas e no segundo semestre o disco completo.
Como é a cena no Rio
Grande do Norte?
Vicente - Mesmo com toda dificuldade de
incentivo, o Rio Grande do Norte possui grandes nomes do metal extremo, e a cada dia surgem
bandas novas Primordium, Sanctifier, Son of a Witch, Expose your Hate. São
bandas solidificadas com material novo e quem não conhece podem escutar. Aqui
em Mossoró tem o Black Witch do nosso brother Rafaum, Reveanger e Evil Hazor. Recomendo!
Vocês
gostam de cerveja artesanal? Qual o estilo preferido?
Vicente - Alcoólatras são aqueles que bebem todo dia, a
gente só bebe a noite então "tá de boas" (risos gerais). IPA e Black IPA são
as nossas preferidas: fortes, amargas e alcoólicas como tem que ser! Aqui em Mossoró
tem duas cervejarias renomadas: Bacurin e a Malassombro.
Já imaginou um rótulo de cerveja do Heavenless, como há de Sepultura,
Matanza, Ratos etc? Qual estilo seria?
Vicente - É uma ótima ideia. Não pensamos ainda a respeito,
teria que ser 10% de álcool no mínimo (risos).
Para encerrar, algum recado para os fãs?
Vicente - Compareçam aos shows, comprem material das bandas, entrem na nossa página, sigam e curtam a vontade, basta isso pra fortalecer a cena. Grande abraço a todos e nos veremos por aí pra tomar umas cervas!